Mandato de procurador-geral termina neste domingo. 'Enquanto houver bambu, lá vai flecha': frase marcou fim da gestão. Ele foi chamado por Collor de 'figura tosca' e por Temer de 'irresponsável'.
Por Filipe Matoso, G1, Brasília
Rodrigo Janot deixará o cargo de procurador-geral da República nesta segunda-feira (18). Aos 61 anos, ele passou os últimos quatro à frente do Ministério Público e colecionou polêmicas com políticos investigados pela PGR e denunciados ao Supremo Tribunal Federal.
O G1 relembra abaixo algumas dessas polêmicas, entre as quais com o presidente Michel Temer, com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Fernando Collor (PTC-AL), além do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
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Há cerca de dois meses, Janot disse "Eu brinco assim: enquanto houver bambu, lá vai flecha". Essa frase repercutiu a ponto de a defesa de Temer usar como argumento para o procurador-geral ser afastado dos processos de investigação relacionados ao presidente. O STF rejeitou.
Os políticos mencionados abaixo foram denunciados por Janot e todos eles negam as acusações imputadas pelo Ministério Público.
A partir desta segunda, a Procuradoria Geral da República será comandada por Raquel Dodge, indicada pelo presidente Michel Temer e aprovada para o cargo pelo Senado.
MICHEL TEMER
Em junho deste ano, Janot denunciou Temer ao STF pelo crime de corrupção passiva. A acusação foi apresentada com base nas delações de executivos da JBS. Ao comentar o assunto, Temer disse:
Na última quinta (14), Janot denunciou Temer outra vez, desta vez pelos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça. Para o presidente, porém, a nova acusação é "recheada de absurdos" e mostra a "marcha irresponsável" do procurador-geral.
Quando Temer disse que a primeira denúncia era uma "infâmia de natureza política", Janot respondeu:
Sobre a acusação de Temer em relação à segunda denúncia, Janot não se pronunciou. Mas ele afirmou no documento enviado ao STF que o presidente era o "líder" da organização criminosa denunciada:
FERNANDO COLLOR
Investigado por Janot, o senador Fernando Collor (PTC-AL) usou vários discursos na tribuna para criticar a atuação do procurador-geral à frente do Ministério Público.
Em um desses discursos, Collor o chamou de "figura tosca". O senador também o acusou de "sucessivos vazamentos" de informações sigilosas.
No dia em que Collor deu essa declaração, Janot não respondeu. Dois dias depois, o senador voltou a dizer que o procurador-geral vaza informações em segredo de Justiça. Janot, então, afirmou:
RENAN CALHEIROS
Também investigado por Janot, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), ex-presidente do Congresso Nacional, faz discursos frequentes contra o procurador-geral e contra o Ministério Público Federal. Ele disse, por exemplo, que a PGR tenta "desmoralizar homens públicos de bem", acrescentando:
Mais recentemente, Renan afirmou, em recado a Janot, que "o brilho dos holofotes ofusca os olhos e cega a razão".
Sempre que procurada após as declarações de Renan, a PGR informava que Janot não comentaria as acusações do senador.
EDUARDO CUNHA
Outro político denunciado por Janot que também fez críticas ao procurador foi o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O peemedebista foi preso no ano passado, no âmbito da Operação Lava Jato.
Em 2015, ainda como presidente da Câmara, Cunha afirmou que estava em uma "guerra política" porque Janot o havia "escolhido" para investigar.
Em julho deste ano, Janot enviou um parecer ao Supremo no qual pediu para a Corte manter Eduardo Cunha preso.
A argumentação do procurador-geral foi que, como o peemedebista não é mais parlamentar, o "poder delitivo" dele está concentrado na capacidade que Cunha tem em "influenciar seus asseclas" no Congresso Nacional.
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