Ele fugiu de casa depois que os pais se separaram, ainda adolescente. Mobilização na web possibilitou o reencontro.
Por José Claudio Pimentel, G1 Santos
Três décadas. Esse foi o tempo em que Anivando Gonçalvez Pires, de 45 anos, ficou sem ter contato com a família. Ele vivia na rua, em Praia Grande, no litoral de São Paulo, até que sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Um apelo na internet possibilitou o reencontro com a mãe e os irmãos.
Anivando fugiu de casa aos 15 anos, inconformado com a separação dos pais. Ele morava com outros sete irmãos em Terra Boa, no interior do Paraná, há 800 km do litoral paulista. A mãe, hoje com 70 anos, tentou encontrá-lo ao longo desse período, mas nunca conseguiu.
"Quando acionaram um irmão nosso, por uma rede social, e mostraram a foto, vimos que era ele. Ninguém tinha contato, não sabíamos se ele estava bem e onde estava. Triste foi que o encontramos dessa maneira", conta o caçula da família, o operário de máquinas, Reginaldo Gonçalvez Pires, de 40 anos.
A equipe do Hospital Irmã Dulce recebeu Anivando depois que socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) o encontraram debilitado nas proximidades de um estacionamento. O quadro era grave e, por isso, os médicos chegaram a acreditar que ele não resistiria.
Sem documentos, foi apresentado como Marcelo - o nome pelo qual era chamado por outros moradores de rua e por pessoas que o ajudavam. Era o segundo AVC que ele sofria em menos de seis meses. Mas, dessa vez, comprometeu parte das funções motoras e a fala, o que o fez permanecer internado por dois meses.
"Eu o conheci há cinco anos, quando mudei para um prédio ao lado de onde ele dormia. Nunca nos atrapalhou por aqui. Sempre deixávamos comida pra ele e para outros que ficavam por ali. A gente via que, apesar de toda a situação, eram pessoas de bem", lembra a aposentada Oneide Carlos Rodriguez, de 73 anos.
Ao saber que ele havia sido socorrido para o hospital depois de um novo derrame, ela passou a acompanhá-lo, como se fosse um filho. "Nunca soube detalhes da vida dele, mas sempre o víamos indo trabalhar em um carrinho na praia. Ele ganhava a vida assim e morava na rua, embaixo de um telhado de uma garagem".
Com a piora do quadro, a equipe do Irmã Dulce resolveu divulgar na internet uma foto de Anivando para tentar encontrar a família. Ele chegou a falar o nome de alguns irmãos aos médicos e enfermeiros. Nas buscas, um voluntário conseguiu localizar uma pessoa que poderia ser um dos irmãos dele.
"Depois de o reconhecermos, os médicos nos falaram que não havia possibilidade de transportá-lo até Terra Boa, onde nós ainda vivemos. Então, eu fui até lá e o acompanhei. Ele estava desenganado, mas foi se recuperando, como se estivesse voltando a ter forças para voltar a casa", contou Reginaldo.
Anivando recebeu alta médica na última semana. Dessa vez, não voltou a morar na rua. Com a ajuda da assistência social, ele teve a passagem de ônibus paga, já que a família também não tinha condições. "Estou feliz por poder voltar para a minha família", disse, depois de agradecer a todos que o ajudaram na unidade.
A viagem durou cerca de 10 horas. "Eu vim buscá-lo e o trouxe para a nossa mãe, que está muito emocionada. Agora, ele voltou para casa e vamos botar a nossa vida em dia, descobrir aos poucos o que ele passou e o que aconteceu. Ainda nem todos os irmãos vieram vê-lo, mas todos já sabem da novidade. Estamos juntos novamente", disse o operário.
Na despedida, a equipe que o atendeu durante a internação não conteve as lágrimas, assim como a aposentada que o ajudou nos últimos anos. "Foi bonito e emocionante. É a vida seguindo o seu caminho da melhor maneira, dentro das possibilidades. Tenho certeza que ele vai ficar bem, junto com as pessoas que o amam e o queriam de volta".
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