Antes cantora e hoje escritora, Bianca conta em livro o sofrimento que passou e a luta – com sucesso – pela vida
Bianca
Toledo é uma mulher que sente muito mais gratidão pela vida do que a
maioria das pessoas no mundo. Não é por menos: grávida de oito meses,
ela teve uma perfuração no intestino e ficou 52 dias em coma, passou por
mais de 300 transfusões de sangue, teve duas paradas cardíacas longas
(uma de oito minutos e outra de 12), enfrentou mais de 10 cirurgias,
contraiu a superbactéria KPC,
teve infecção generalizada e seus órgãos pararam de trabalhar. Mas
Bianca desafiou a medicina quando sobreviveu a tudo isso e, hoje, vive
plenamente, sem sequelas.
A internação
Bianca conta que tudo aconteceu de repente. “Foi de uma hora para outra. Fui dormir tranquila, a gravidez estava perfeita, e acordei com uma cólica muito forte. Achei que estava em trabalho de parto e fui para a maternidade”, conta Bianca.
No entanto, quando ela chegou no hospital, não havia dilatação e as dores não eram de contração. “Comecei a vomitar um líquido escuro, com placas de sangue. Foi então que me encaminharam para um hospital especializado. Depois de quatro dias vomitando, descobriam que o intestino havia se rompido e necrosado. Iam reconstruí-lo, mas aí já entrei em coma e tive sepse (infecção generalizada), fazendo com que os órgãos fossem parando, um a um”, conta.
O coma
Bianca não viu seu filho nascer. Não ouviu seu primeiro chorinho e nem pôde abraçá-lo depois da primeira golfada de ar entrar em seus pulmões. Nesse momento, ela estava em coma por ter aspirado seu próprio vômito e relata que a época inconsciente parecia um sonho. “Vivi intensamente durante todo o coma, não foi simplesmente um abrir e fechar de olhos. Tive sonhos ininterruptos, estava consciente em outros lugares”, explica.
“Eu tinha vários sonhos. Era como se tudo que estivessem falando ao meu redor entrasse nos sonhos e interagisse com aquele roteiro. Envolviam bebês recém-nascidos, pessoas me pedindo perdão do lado do leito, dizendo que queriam me apresentar um recém-nascido. Sonhava também com bolsas de sangue”, conta ela, que depois do coma descobriu que tudo o que havia sonhado tinha a ver com a realidade.
Enquanto a mente de Bianca estava em coma, o corpo sofria. “Meu organismo entrou em choque, havia líquido fecal por toda a cavidade abdominal, o que contaminou todos os órgãos. Os médicos me deram 48 horas de vida. Não tinha muito o que fazer”, conta a sobrevivente.
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No entanto, os órgãos começaram a falhar e Bianca não morria. “Começou uma corrente de oração, e realmente cremos que essas orações me mantinham viva”, conta expressando sua fé. “Foi lindo, o chefe de polícia do estado do Rio de Janeiro liberou um ônibus inteiro de policiais para doarem sangue para mim. Foi a maior campanha de doação de sangue do estado”, conta.
Aprisionada
Quando Bianca acordou do coma, ela se sentiu aprisionada dentro de si. “Uma sensação muito ruim, de aprisionamento. Estava presa dentro do meu corpo, lembrando aos poucos de quem eu era, da minha fé, do futuro que eu acreditava que estava preparado para mim. Foi assim que reuni forças para perseverar”. Bianca ainda detalha que a equipe médica achava que a qualquer momento ela morreria ou iria passar o resto dos seus dias na UTI.
Mas não foi o que aconteceu. Quando seu filho estava com cinco meses, Bianca pôde conhecê-lo. “Foi quando recebi alta para continuar o tratamento em casa. Estava em cadeira de rodas, desnutrida, careca, com circunferência abdominal grande e restrição de toque. Ninguém podia encostar em mim”, conta ela, que teve o filho nos braços aos sete meses.
A musculatura de Bianca, pelo tempo em repouso, encurtou. “Só colocavam meu filho no meu colo, mas não tinha forças para interagir. Só pude pegá-lo realmente com dois anos e meio”, conta ela.
Antes cantora, a voz de Bianca desapareceu durante os
problemas de saúde que teve. “A voz só voltou depois de quatro anos, e
em forma de sussurro. Tive um encurtamento da laringe severo e, nesse
meio tempo, comecei a escrever. Nunca imaginei que me tornaria uma
escritora. Em menos de um ano, meu livro contando sobre minha vida já
era um bestseller e, hoje, está entre os dez mais vendidos no País”,
comemora.
Quando a voz voltou, Bianca falava muito baixinho. “Era
bem rouco e grave. Quando eu palestrava, conseguia falar com o auxílio
do microfone”, conta.A reconstrução do abdômen, necessária depois de todos os procedimentos que ela passou, trouxe a força para falar. “Agora é uma voz rouca, mas já é melhor para conversar”, explica ela. Ao telefone, não se nota essa rouquidão, no entanto.
Razão e fé
Hoje, Bianca se considera absolutamente mais feliz do que antes. “A gratidão de quem perdeu tudo é muito maior do que quem não sabe o valor do que se tem. Eu sei o valor do ar que eu respiro, porque fiquei no respirador por cinco meses”, conta ela.
Caminhar sem apoio é um motivo de alegria e agradecimento para Bianca. “Tive a oportunidade de saber como se sente um cadeirante, uma pessoa em estado terminal”, diz ela. “A gratidão muda o meu olhar para as coisas, o valor que dou para a vida. Sou uma pessoa mais intensa, mais comprometida com a vida, vivo sempre como se não houvesse amanhã. Percebo a vulnerabilidade que é a vida e dou valor para as coisas que o dinheiro não compra: relacionamentos e família”.
“Frente a frente com a morte, percebi que meus recursos não eram suficientes. Quando a ciência esgota as possibilidades, você precisa ter fé, pois a razão já chegou ao limite”, diz ela.
Hoje, Bianca também se dedica a dar apoio para pessoas que estão passando por situações semelhantes à dela. “Tenho uma página que eu mesma cuido e recebo comentários de pessoas que estão hospitalizadas e desenganadas pela medicina. Dou apoio às famílias”, conta. “Tento retribuir”.
Serviço
Título: Bianca Toledo – Prova Viva de um Milagre
Autora: Bianca Toledo
Editora Mundo Cristão
Preço: R$ 24,90
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