Mestre Caranguejo - baiano radicado em São Paulo - e o grupo Ladodalua, do ABC paulista, lançam álbuns que mostram a riqueza desta manifestação cultural - seja de forma tradicional ou reinventada
Trabalho do artista plástico baiano Sérgio Rabinovitz para a exposição Capoeira é Tradição, que esteve em cartaz em 2011, na Caixa Cultural Salvador (Foto: Reprodução)
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Está para nascer expressão cultural mais diversa que a capoeira. Brasileira por natureza, ela é arte marcial, esporte, música e para alguns, até dança. E é, justamente, essa musicalidade que distingue a arte herdada pelos ancestrais africanos de tantas outras espalhadas pelo mundo. Um bom capoeirista não aprende só os golpes e movimentos, aprende também a tocar o berimbau, o atabaque...
Dois artistas ligados a esta tradição artística lançam discos que têm como principal referência a expressão cultural nascida em Angola: o baiano Mestre Caranguejo e os paulistanos do grupo Ladodalua. Apesar de baiano, Mestre Caranguejo, 65 anos, se tornou referência em um dos mais antigos grupos de capoeira de São Paulo, o Vera Cruz.
Este ano, o capoeirista lança seu segundo álbum, Mestre Caranguejo e a Poética do Berimbau, produzido através de um edital da Secretária de Cultura do Estado de São Paulo. O disco traz 16 faixas autorais que resgatam as antigas cantigas, rimas e marcações do samba de roda, berimbau de barriga e outras tradições afro-brasileiras.
“As músicas foram compostas há muito tempo. Como sou compositor, venho cantando elas nas casas de candomblé que frequento. Achei essas músicas boas e algumas pessoas disseram que gostaram. Então, eu quis fazer um disco”, revela.
Segundo ele, o projeto tem um cerne: a mulher. “Esse disco foi feito com a influência da mulher. A mulher pra mim é a redentora. Eu saúdo um pouco isso”, explica. Não à toa, canções como Homenagem à Mestra Cigana, Panela de Barro, Força da Natureza e Boneca de Louça se destacam no álbum.
Nascido como Alberto Alves Barbosa, Mestre Caranguejo, que é descendente dos metres baianos Caiçara (1923-1997) e Waldemar Paixão (1916- 1990), recebeu, em 2010, o prêmio Viva Meu Mestre, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Ministério da Cultura. Ele também foi educador da Fundação Casa, de 1988 até 2014, onde ministrou oficinas de capoeira e de construção de berimbau.
Mistura
A capoeira tradicional, com os toques ritmados do berimbau, já é exuberante. Quando se mistura com outros estilos da música brasileira, ganha ainda mais fôlego. A banda Ladodalua é um exemplo dessa nova sonorização. Formada pelo mestre de capoeira e percussionista Dalua, 40 anos, e por Emilio Martins, 39, Cello Resende, 45, Elder Costa, 47, Edy Trombone, 32, e Dr. Otávio Gali, 36, o grupo mescla o ritmo com MPB, maracatu, jazz, soul, samba e rock.
“A capoeira foi a porta de entrada da música para mim e para outros músicos da banda. Além de falar dessa coisa tão ancestral no disco, que é o tambor, a gente também traz essa força da música brasileira”, conta Dalua, mestre de capoeira do grupo Mandinga, fundado pelo mestre Maurão, em São Paulo.
No repertório, foram reunidas 12 faixas que intercalam cinco canções autorais, como Eu Sou Desse Chão, Onde Tem Tambor Tem Gente e O Laço, como sete regravações de sucessos da música brasileira, como Baião, de Luiz Gonzaga (1912-1989) e Humberto Teixeira (1915- 1979), Todo Dia Era Dia de Índio, de Jorge Ben Jor, e Parabolicamará, de Gilberto Gil.
“A escolha das músicas se deu com um objetivo: queríamos nesse primeiro disco mostrar de onde viemos”, conta o músico, que já trabalhou com grandes artistas ao longo da sua carreira, como Lenine, Maria Rita, Jair Rodrigues (1939-2014), Ana Carolina e Luciana Mello.
Para Dalua, a diversidade é a marca que dá unidade ao projeto. Mas, apesar dos passeios por outras bandas, o lugar de origem é o ponto principal do disco. “Porque a capoeira é uma porta de entrada para a cultura brasileira. Quem começa a estudar capoeira acaba indo para o maracatu, o coco, o ijexá, o frevo...”, aponta o percussionista.
Estudiosa fala da força da capoeira em São Paulo
E quem pensava que capoeira e São Paulo combinavam tanto quanto água e óleo vai se surpreender em descobrir que em 1834 já existiam decretos municipais, na capital paulista, que condenavam a 25 açoites quem fosse pego praticando capoeira em vias públicas. Quem revela isso é a pesquisadora Erika Balbino. “Isso prova que a capoeira em São Paulo é anterior a essa data”, conta.
Dois artistas ligados a esta tradição artística lançam discos que têm como principal referência a expressão cultural nascida em Angola: o baiano Mestre Caranguejo e os paulistanos do grupo Ladodalua. Apesar de baiano, Mestre Caranguejo, 65 anos, se tornou referência em um dos mais antigos grupos de capoeira de São Paulo, o Vera Cruz.
Este ano, o capoeirista lança seu segundo álbum, Mestre Caranguejo e a Poética do Berimbau, produzido através de um edital da Secretária de Cultura do Estado de São Paulo. O disco traz 16 faixas autorais que resgatam as antigas cantigas, rimas e marcações do samba de roda, berimbau de barriga e outras tradições afro-brasileiras.
“As músicas foram compostas há muito tempo. Como sou compositor, venho cantando elas nas casas de candomblé que frequento. Achei essas músicas boas e algumas pessoas disseram que gostaram. Então, eu quis fazer um disco”, revela.
Segundo ele, o projeto tem um cerne: a mulher. “Esse disco foi feito com a influência da mulher. A mulher pra mim é a redentora. Eu saúdo um pouco isso”, explica. Não à toa, canções como Homenagem à Mestra Cigana, Panela de Barro, Força da Natureza e Boneca de Louça se destacam no álbum.
Nascido como Alberto Alves Barbosa, Mestre Caranguejo, que é descendente dos metres baianos Caiçara (1923-1997) e Waldemar Paixão (1916- 1990), recebeu, em 2010, o prêmio Viva Meu Mestre, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Ministério da Cultura. Ele também foi educador da Fundação Casa, de 1988 até 2014, onde ministrou oficinas de capoeira e de construção de berimbau.
Mistura
A capoeira tradicional, com os toques ritmados do berimbau, já é exuberante. Quando se mistura com outros estilos da música brasileira, ganha ainda mais fôlego. A banda Ladodalua é um exemplo dessa nova sonorização. Formada pelo mestre de capoeira e percussionista Dalua, 40 anos, e por Emilio Martins, 39, Cello Resende, 45, Elder Costa, 47, Edy Trombone, 32, e Dr. Otávio Gali, 36, o grupo mescla o ritmo com MPB, maracatu, jazz, soul, samba e rock.
“A capoeira foi a porta de entrada da música para mim e para outros músicos da banda. Além de falar dessa coisa tão ancestral no disco, que é o tambor, a gente também traz essa força da música brasileira”, conta Dalua, mestre de capoeira do grupo Mandinga, fundado pelo mestre Maurão, em São Paulo.
No repertório, foram reunidas 12 faixas que intercalam cinco canções autorais, como Eu Sou Desse Chão, Onde Tem Tambor Tem Gente e O Laço, como sete regravações de sucessos da música brasileira, como Baião, de Luiz Gonzaga (1912-1989) e Humberto Teixeira (1915- 1979), Todo Dia Era Dia de Índio, de Jorge Ben Jor, e Parabolicamará, de Gilberto Gil.
“A escolha das músicas se deu com um objetivo: queríamos nesse primeiro disco mostrar de onde viemos”, conta o músico, que já trabalhou com grandes artistas ao longo da sua carreira, como Lenine, Maria Rita, Jair Rodrigues (1939-2014), Ana Carolina e Luciana Mello.
Para Dalua, a diversidade é a marca que dá unidade ao projeto. Mas, apesar dos passeios por outras bandas, o lugar de origem é o ponto principal do disco. “Porque a capoeira é uma porta de entrada para a cultura brasileira. Quem começa a estudar capoeira acaba indo para o maracatu, o coco, o ijexá, o frevo...”, aponta o percussionista.
Estudiosa fala da força da capoeira em São Paulo
E quem pensava que capoeira e São Paulo combinavam tanto quanto água e óleo vai se surpreender em descobrir que em 1834 já existiam decretos municipais, na capital paulista, que condenavam a 25 açoites quem fosse pego praticando capoeira em vias públicas. Quem revela isso é a pesquisadora Erika Balbino. “Isso prova que a capoeira em São Paulo é anterior a essa data”, conta.
Segundo ela, a arte marcial começou a ser praticada como resquício da capoeira escrava. “Hoje, onde é a Praça da Liberdade, era o Pelourinho. Por isso, tem esse nome e não por causa dos japoneses. O Cemitério dos Aflitos era onde eram enterrados os ‘vadios e capoeiras’, como eles eram chamados”, afirma. Erika revela que nas décadas de 30 e 40, os capoeiristas são inseridos nas escolas de samba. “Essa comissão de frente em São Paulo, nas décadas de 30 e 40, era formada por grandes capoeiristas”, aponta.
Na década de 60, no período da ditadura, a capital paulista começa a receber grandes mestres que chegavam da Bahia. De acordo com a pesquisadora, eles trazem uma metodologia de ensino e formam as primeiras academias do estado. “Quando os mestres baianos chegaram, trouxeram essa metodologia, essa ideia de academia, os cordões”, explica.
Mas é na década seguinte que o movimento ganhar contornos ainda maiores. “A capoeira ganha o mundo nesse período. As pessoas passam a se interessar pela cultura brasileira despertada pela capoeira”, analisa.
Para Erika, tanto o Mestre Caranguejo, com sua capoeira mais tradicional, e o grupo Ladodalua, com o intercâmbio de musicalidades, são alguns dos responsáveis pela manutenção do movimento no estado. “O Mestre Caranguejo não tem formação acadêmica nenhuma e foi reconhecido pelo projeto Viva Meu Mestre, foi educador da Fundação Casa, isso é incrível. Já a banda Ladodalua e Dalua,que são de uma região operária, o ABC Paulista, e cresceram ouvindo metal, enveredaram pela capoeira e vêm fazendo um trabalho belíssimo”, fala.
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