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segunda-feira, 27 de julho de 2015

Fantástico revela detalhes da fuga de 31 presos pelo esgoto há 2 anos no RJ

Fantástico teve acesso ao relatório da investigação da fuga que aconteceu há dois anos e meio. Falhas na segurança são impressionantes.

Você vai ver, em primeira mão, os detalhes de uma fuga que parece coisa de cinema. Como é que 31 presos conseguiram cavar túneis para escapar pelo esgoto, em um lugar exposto, aberto, que qualquer um poderia ver. E ninguém percebeu nada?
As falhas na segurança são ainda mais impressionantes, e por isso, dois anos e meio depois da fuga, as autoridades querem reabrir as investigações.
Domingo, dia de visita em um presídio do Rio de Janeiro. Desde as primeiras horas da manhã, 31 bandidos vão sumindo por um bueiro. Alguns, muito perigosos.
Entre os foragidos está Claudino dos Santos Coelho, um dos condenados pela morte do jornalista Tim Lopes.
Túneis são descobertos. Foram cavados com ferramentas do próprio presídio. Os detentos tinham autorização para entrar e trabalhar nas tubulações por onde fugiram. Só quatro são recapturados. Os outros 27 conseguem escapar. Falhas na fiscalização e no controle dos presos.
Ninguém foi indiciado e apenas um demitido, um novato que trabalhava em outro presídio.
O Fantástico mostra, com exclusividade, por que as autoridades querem reabrir a investigação dessa fuga. No Instituto Penal Vicente Piragibe, estão 3 mil presos. Todos pertencem à maior facção criminosa do Rio de Janeiro. O Fantástico entrou no presídio para mostrar como 31 detentos, entre eles os principais líderes do tráfico no estado, conseguiram fugir.
Depois da fuga, em fevereiro de 2013, esta é a primeira vez que uma equipe de televisão entra no presídio, que não é de segurança máxima. Nele ficam os presos que conseguiram a progressão da pena. Eles estão no regime semiaberto, mas não receberam autorização do juiz para deixar a cadeia. Por isso, entre 8h e 17h eles ficam soltos no pátio.
O Fantástico foi até o chamado ‘Parquinho’. Onde os filhos dos presos brincavam nos dias de visita. E também foi o local onde a fuga começou, por um bueiro. O Instituto Vicente Piragibe é um dos 24 presídios que compõem o Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Um mapa mostra o caminho subterrâneo da fuga. A partir do bueiro do parquinho eles chegaram à tubulação e tiveram que dar a volta em um ponto estreito da galeria pluvial.
O Fantástico teve acesso ao relatório final das investigações. Um fugitivo que foi recapturado diz que a fuga começou às 8h. A primeira leva tinha 12 presos, e eles precisaram de uma hora até sair pelo valão.
Ao todo, são quase 500 metros de canos. O fim da linha fica debaixo da guarita de um presídio vizinho. Foi o inspetor que estava em uma das guaritas que acabou sendo o único punido com demissão.
Fantástico: O inspetor que estava na guarita naquele dia foi apontado como responsável. Ele foi de fato o responsável?
Sauler Antônio Sakalen: Olha, o principal foco de visão dele tem que ser o interior da cadeia.
Hoje, o que se vê, na saída do cano, é um valão. E no dia da fuga, dava para ver o quê? Quem conta é o próprio funcionário que foi punido. No domingo da fuga, era o primeiro dia dele no emprego. “Não dava para ver nada ali. Não dava para ver nem que tinha um valão ali, não dava para ver. Aí depois que roçaram, que fizeram tudinho, eu vi que era um valão”, diz Rubens Jerônimo da Silva, ex-inspetor penitenciário. 
Quatro depoimentos confirmaram essa versão. Mas as imagens, que mostram o mato cortado depois da fuga, foram usadas na acusação contra Rubens. Uma grade foi colocada também depois da fuga.
Como você viu antes, a fuga começou em uma casa onde ficava o parquinho. Hoje o bueiro está lá dentro. Na época da fuga, as paredes não existiam. O bueiro ficava em uma varanda como mostram as fotos do relatório. Dava para os inspetores verem muito bem a movimentação dos fugitivos no bueiro que dá acesso ao esgoto.
“Um labirinto de esgoto para lá, para cá. Então o cara demoraria eu acho que uns 10 dias para achar”, diz Rubens Jerônimo da Silva.
Naquele dia, o presídio tinha dez inspetores. Apenas quatro estavam na área de visitação. O controle da entrada das visitas era feito pelos próprios presos. E o presídio só tinha câmera de segurança na entrada.
Fantástico: As imagens das câmeras não tinham que ter sido investigadas para saber realmente se tinha alguma informação ali?
Erir Ribeiro Costa Filho: Isso aí, com certeza. Inclusive as imagens da parte externa. E no processo, que eu pude verificar, não está constando essas imagens. 
Até hoje, dois anos e meio depois, não se sabe se todos os bandidos usaram apenas os canos para fugir. “Nós temos que verificar todas as hipóteses possíveis, tanto pode ser pelo túnel, pela porta da frente, ter pulado o muro”, afirma o secretário de Administração Penitenciária, Erir Ribeiro Costa Filho.
Os presos fazem uma parte da manutenção do presídio. Trabalham com ferramentas como foice, enxada e marreta. Adivinhe o que eles usaram para cavar os túneis?
O então diretor contou à comissão de sindicância que os presos ajudaram em uma obra para aumentar a drenagem da água da chuva e do esgoto. Perguntado pelos investigadores se a tubulação do parquinho era vistoriada com frequência, o responsável pelas obras de manutenção disse que, por questões técnicas, a verificação detalhada não era necessária.
Fantástico: Não tem ninguém que fiscalize o bueiro?
Sauler Antônio Sakalen: Bom, a direção, ela normalmente, ela diz quem é responsável por fiscalizar os bueiros da unidade prisional.
Fantástico: Isso tem que ser feito todo dia.
Sauler Antônio Sakalen: Diariamente.
“Se ele não tem condições de fiscalizar, tem que se pedir apoio. Porque nós temos grupamentos que podem dar apoio em qualquer cadeia do estado”, diz o secretário de Administração Penitenciária, Erir Ribeiro Costa Filho.
No ano anterior à fuga, foram apreendidos no presídio celulares, chips, radiotransmissores e mais de 2 mil sacolés de cocaína e quase 800 cigarros de maconha. Dos 31 fugitivos, quatro foram presos no mesmo dia. Outros 19 foram recapturados depois. E outros seis morreram, inclusive Claudino dos Santos Coelho, um dos condenados pelo assassinato de Tim Lopes.
Hoje, dois bandidos continuam foragidos. Um deles é Robson Aguiar de Oliveira, o Binho do Engenho, que assumiu o tráfico no Complexo do Chapadão, uma das áreas mais violentas da cidade.
A Polícia Civil não indiciou ninguém. Já o Ministério Público continua investigando a fuga e não quis se manifestar. Os responsáveis pelo presídio, na época da fuga, cumpriram medida administrativa, com suspensão de até 120 dias. Todos reassumiram os cargos.
O ex-secretário de administração penal, César Rubens de Carvalho, não quis gravar entrevista. Por email, ele afirma que “todos os funcionários envolvidos foram punidos dentro do que foi apurado nos autos”. E diz também que o então inspetor Rubens poderia ter ao menos interrompido a fuga.
Fantástico: O senhor acha que alguém deve ser responsável por essa fuga, e não apenas um funcionário no primeiro dia de trabalho?
Erir Ribeiro Costa Filho: Claro que tem. Claro. Tem muitas perguntas, muitas dúvidas.

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