Terri-Louise Graham, de 31 anos, compartilhou seu drama pessoal durante o festival 'Women of the World’, em Londres
08 Mar 2015
Medo, terror, vergonha, culpa. Essas
foram apenas algumas das palavras usadas por uma vítima de violência
doméstica para descrever sua experiência pessoal durante o festival
'Women of the World', em Londres, que chega ao fim neste domingo, 8, Dia Internacional da Mulher.
Sobrevivente do abuso constante de seu ex-parceiro,
tanto físico quanto psicológico, Terri-Louise Graham, de 31 anos, teve a
coragem de compartilhar detalhes do trauma que sofreu em seu próprio
lar nas mãos daquele que, supostamente, deveria amá-la e protegê-la de
todo mal.
“Conheci o Greg quanto tinha 17 anos. Era o amor da
minha vida. Ficamos juntos até meus 19 anos, quando mudei para
Inglaterra e acabei conhecendo o pai da minha filha. Ao voltar para a
Irlanda do Norte e me separar do meu marido após ele ser violento com
nossa filha na minha frente, acabei me aproximando novamente do Greg.
Quando vi ele já estava morando comigo na minha casa, apesar de ainda
não estar pronta para um novo relacionamento”, relembrou Terri-Louise em
entrevista exclusiva ao Terra.
“No
início, foram seis meses ao todo, ele não fez nada. Ele era brilhante,
perfeito. Descobrimos que estava grávida de três meses e foi quando os
primeiros abusos físicos começaram. A primeira vez que fiquei
completamente coberta por meu próprio sangue”, continuou.
Além da violência física, que a levou a parar no
hospital em mais de uma ocasião e chegar a ficar com o rosto totalmente
irreconhecível, Terri-Louise também revelou que foi vítima de estupro do
ex-parceiro. “Fui estuprada pela primeira vez quando estava amamentando
nosso filho, que estava num quarto
ao lado. Os abusos físicos e sexuais continuaram até que fiquei grávida
novamente, e ele não aceitava a ideia de ter outro filho. Antes de eu
dar à luz, ele chegou a me chutar, esmurrar e dar joelhadas na minha
barriga. Ele não queria ser pai novamente. Dei à luz prematuramente, 3
semanas e meia antes do tempo, porque ele me bateu tanto e estava muito
estressada”.
Segundo Terri-Louise, ela não conseguia entender o
motivo pelo qual era tão abusada pelo homem que amava. “Chegou a um
ponto em que os abusos aconteciam todo dia. Não sabia se era algo que ia
dizer ou se porque não cozinhei algo certo, estava sempre com receio de
quando seria a próxima vez que ele iria me bater”.
A jovem, de 31 anos, contou ainda em detalhes a última
ocasião em que foi estuprada e espancada durante seis horas pelo
parceiro até a chegada da polícia. “Estávamos na casa de uma amiga que
chamava de minha irmã mais nova. Ele quebrou uma garrafa de vodka na
minha cabeça no apartamento dela e eu falei pra ela: ‘liga pra polícia’.
Então ela começou a ligar pra polícia à 1h e só às 7h45 eles
apareceram. A policial disse pra ela: ‘sempre recebemos chamadas desses
dois’. E [minha amiga] disse que ele ia me matar e acabou fugindo
assustada. Nesse intervalo de tempo, ele me levou pra rua no meio dos
arbustos, tirou minha roupa, me deixou completamente nua, me bateu, me
estuprou e depois andou comigo até nossa casa, eu estava sangrando,
sendo amparada por ele, que andava calmamente. Chegamos em casa e ele
continuou a me espancar. Ele tentou me enforcar duas vezes, jogou uma TV
na minha cabeça, me chutou na cara. Eu desmaiei várias vezes. Quando a
polícia chegou, ele ainda tentou me silenciar e fazer com que eles
fossem embora de novo. Foi quando gritei e corri. Não sei de onde tirei
essa força. Corri e me joguei nos braços da policial”.
Após três anos de abuso doméstico, Terri-Louise levou
Greg ao tribunal e ele foi condenado a 7 anos de prisão, incluindo oito
acusações de estupro.
“Ele está na lista de criminosos sexuais para o resto da
vida. Ele tem que reportar tudo pra polícia e não pode se ausentar por
mais de 3 dias do país, qualquer mulher que ele tiver relacionamento no
futuro, ele tem que dizer o que ele fez. Eu fiz isto, protegi qualquer
outra mulher com quem ele possa se envolver no futuro. E acho que é uma
coisa boa. Ele não pode apenas sair da prisão e machucar outra mulher
novamente. Tive o pior momento da minha vida”.
Trauma
Desde que Greg Logue foi preso em 2011, Terri-Louise ainda tenta se recuperar do trauma que sofreu e recorre à terapia para continuar vivendo.
Desde que Greg Logue foi preso em 2011, Terri-Louise ainda tenta se recuperar do trauma que sofreu e recorre à terapia para continuar vivendo.
“Tenho Transtorno de Estresse Pós-traumático. Não falei
com ninguém depois que isso aconteceu. Por um longo tempo, não tinha as
cortinas fechadas em casa, me sentia apavorada. Não podia ir a qualquer
lugar sozinha, nem a este prédio ou até mesmo ir até a loja da esquina. É
muito assustador. Estou começando a tentar falar com alguém no telefone
e conseguir andar até algum lugar. Ainda acordo gritando hoje em dia.
Ele era horrível, terrível, nojento”.
Futuros relacionamentos
A experiência traumática deixou sequelas em Terri-Louise, que não pensa em ter novos relacionamentos, pelo menos por enquanto.
A experiência traumática deixou sequelas em Terri-Louise, que não pensa em ter novos relacionamentos, pelo menos por enquanto.
“Não quero homem mais. Estou há mais de um ano e meio
solteira e estou feliz sozinha. Não preciso de um homem. No futuro pode
ser que pinte alguém, pois não acho que todos os homens sejam iguais.
Apenas sei que, naquele momento, não estava pronta e estava escolhendo
os homens errados. Obviamente, tinha que trabalhar em mim. Claro que
eles sabem por qual ângulo aproximar uma mulher, procurar por aquele
lado fraco, vulnerável. Eu procurei por um homem forte para me proteger,
mas não sabia que ele ia acabar me machucando”.
Ela acrescentou: “Tive quatro relacionamentos em toda
minha vida e sempre foi abuso, abuso e abuso. Isso me levou a pensar,
pára, Terri, desista, vamos lá, tente cuidar de si mesma, conserte sua
cabeça, ajeite sua vida. Se ainda tenho Transtorno de Estresse
Pós-traumático, se ainda estou vendo o psicólogo, não estou pronta pra
um relacionamento, porque não consertei isso”.
Conselho para mulheres em situação similar
Assim como decidiu contar seu caso para outras mulheres durante o Festival ‘Women of the World’ em Londres, Terri-Louise quer continuar divulgando sua história e aconselha outras vítimas de violência doméstica a não se calarem.
Assim como decidiu contar seu caso para outras mulheres durante o Festival ‘Women of the World’ em Londres, Terri-Louise quer continuar divulgando sua história e aconselha outras vítimas de violência doméstica a não se calarem.
“Se tiverem na mesma situação do que eu, fale com
alguém, qualquer pessoa. Se quiser falar comigo no Facebook, fale
comigo. Ache uma pessoa e converse. Eu inspirei mulheres a falarem pela
primeira vez com outras pessoas. Às vezes é muito difícil, você não quer
contar pra sua mãe, mas há pessoas lá fora que podem te ajudar. Eu
amava esse homem e me sinto petrificada com ele. Jamais voltaria pra
ele. Ele tentou me matar. Quero que [outras mulheres] deixem essa
situação, mas também sei como elas se sentem. Por isso, fale sobre isso.
Nunca pare de falar sobre isso, não necessariamente para a polícia, mas
não deixe de falar. Sempre terá aquela pessoa com quem poderá falar. Eu
tive. Você precisa de algum tipo de apoio”.
Segundo ela, também é importante que as mulheres não se sintam culpadas ou envergonhadas devido ao abuso doméstico que sofreram.
“Não tenha medo nem vergonha. Costumava pensar que eu
era suja, porque é sujo, principalmente sendo estuprada. Fui estuprada
na rua mais de uma vez. Você tem que entender que não é suja. Ele que é o
animal, nojento, não eu. Você não quer se sentir como vítima, mas você
é”, disse Terri.
“Ao compartilhar minha história e ajudar as mulheres,
alguma coisa boa pode vir de algo tão ruim e cruel. Por isso estou
aberta a falar, porque o quanto mais amplamente meu caso for divulgado,
posso estar ajudando outra pessoa. Com quantas mais pessoas você falar,
mais chances de você conseguir ajudá-las”, finalizou.
Estatísticas de estupro - Reino Unido x Brasil
De acordo com um estudo do Ministério do Interior e Ministério da Justiça divulgado em janeiro de 2013, aproximadamente 85,000 mulheres são estupradas em média na Inglaterra e País de Gales todo ano. Mais de 400,000 mulheres são violentadas sexualmente a cada ano e uma em cinco mulheres, entre 16 e 59 anos, já experienciou alguma forma de violência sexual desde os 16 anos de idade.
De acordo com um estudo do Ministério do Interior e Ministério da Justiça divulgado em janeiro de 2013, aproximadamente 85,000 mulheres são estupradas em média na Inglaterra e País de Gales todo ano. Mais de 400,000 mulheres são violentadas sexualmente a cada ano e uma em cinco mulheres, entre 16 e 59 anos, já experienciou alguma forma de violência sexual desde os 16 anos de idade.
Cerca
de 90 por cento das vítimas da maioria de ofensas sexuais sérias em
2012 conheciam seu perpetrador, comparado com menos do que a metade por
outras ofensas sexuais. Em 2011/12, a polícia registrou um total de
53,700 ofensas sexuais na Inglaterra e País de Gales. Os crimes sexuais
mais sérios de ‘estupro’ (16,000 casos) e ‘agressão sexual’ (22,100
casos) somaram 71% dos crimes sexuais registrados pela polícia.
Já segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública
2014, 50,320 estupros foram registrados no país em 2013, numa leve
oscilação no número de registros em relação a 2012, quando foram
relatados 50,224 casos. 35% das vítimas de estupro costumam relatar o
episódio à polícia, de acordo com pesquisas internacionais. Portanto,
estima-se que o Brasil tenha convivido em 2013 com cerca de 143 mil
estupros.
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