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quarta-feira, 1 de abril de 2015

Refugiados se escondem em caminhão-tanque e quase 'se afogam' em chocolate

BBC

  Depois de meses vivendo em um precário acampamento para refugiados na cidade portuária francesa de Calais, um homem sírio fez sua 18ª tentativa de entrar ilegalmente no Reino Unido como clandestino num dos muitos caminhões que diariamente fazem a travessia pelo Eurotúnel.
Mas ele acabou entrando em um caminhão-tanque aquecido carregado de chocolate líquido. Veja abaixo o relato que ele deu à BBC, contando como ele e seus companheiros escaparam por pouco de morrer afogados:
"Encontramos o traficante de pessoas num posto de gasolina às duas da manhã. Os caminhões indo para a Grã-Bretanha estavam sempre estacionados ali, perto da estação de trem. Normalmente tentávamos entrar neles clandestinamente à noite, quando os motoristas estavam dormindo e não havia muita polícia à volta.
Éramos 25 pessoas, então o traficante nos dividiu em grupos. Cada grupo seria colocado num caminhão diferente. O traficante escolheu os sete mais altos. Cinco de nós éramos sírios e os outros dois, egípcios. Com 25 anos, eu era o mais novo do grupo.
Sabíamos que nosso veículo, um caminhão-tanque, estava indo para a Grã-Bretanha porque o traficante viu essa informação colocada no para-brisa do veículo. Ele é um iraquiano de origem curda e trabalha com isso há anos. Eu saí da Síria sem dinheiro algum, então trabalhei com ele em Calais por quase dois meses para pagar a minha "passagem". O traficante já tinha me dito que caminhões que transportam líquidos entram direto nos trens (que cruzam o Eurotúnel) sem passar pelo raio-x.

Calor

O motorista do caminhão escolhido para o nosso grupo ainda estava dormindo na boleia, então subimos sobre o tanque em silêncio e o traficante cortou os arames que trancavam a escotilha. Não tínhamos ideia do que estava no interior, mas assim que a escotilha foi aberta o cheiro chegou até nós. Estávamos entrando num tanque cheio de chocolate líquido.
Fazia frio em Calais, então quando entramos no chocolate quente foi um sensação gostosa. Mas depois de 15 minutos o calor começou a ficar desconfortável.
Tenho cerca de 1,85 m de altura, mas não conseguia colocar os pés no fundo. Todos segurávamos o mecanismo de abertura da escotilha com uma das mãos enquanto apoiávamo-nos uns nos outros com a outra. Tudo isso com chocolate até o pescoço. Se um de nós perdesse o apoio, afundaria no chocolate e não poderíamos fazer nada para tirá-lo de lá.
Com a escotilha fechada, tínhamos pouco ar para respirar. O calor era terrível e precisávamos mexer as pernas constantemente para não ficarmos presos no chocolate.
Mas resistimos, na esperança de que o caminhão se movesse logo. Era uma jornada de até meia-hora do posto de gasolina até o trem e assim que passássemos o controle de segurança poderíamos sair.
Mas o caminhão continuou parado. Ficamos lá por mais de duas horas. Não havia o que dizer. Apenas xingamos (o presidente da Síria) Bashar al-Assad por nos colocar nessa situação.
Meus companheiros começaram a dizer que estava muito quente, que tínhamos de sair do tanque. Mas se qualquer um de nós deixasse caminhão, haveria marcas de chocolate do lado de fora. Seríamos todos descobertos.

'Grude'

Um ou dois homens começaram a chorar. Decidimos que todos sairíamos, mas o chocolate era tão grudento que foram precisos vários de nós para ajudar a abrir a escotilha e sair.
O último foi o mais complicado, pois não havia ninguém para empurrá-lo para cima. Tentamos puxá-lo, mas ele estava sendo sugado pelo chocolate. Ele teve que se livrar dos sapatos para sair. Ficaram lá (no chocolate).
Foi uma longa caminhada para o nosso acampamento. Estávamos coberto de chocolate da cabeça aos pés - mãos, pés, cabelos e olhos. Mas ao menos era chocolate de qualidade. Ainda estávamos lambendo-o de nossa pele quando chegamos ao acampamento. Deixamos pegadas de chocolate na estrada.
O narrador desta história acabou entrando na Grã-Bretanha posteriormente, escondido em uma carroceria carregando caminhões novos. Ele, se escondeu na boleia de um que estava com as portas destrancadas. O refugiado sírio hoje trabalha num restaurante árabe na cidade de Sheffield.

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