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sábado, 27 de junho de 2015

Eles querem mudar aqui e agora

Leonardo Gusmão e Silas Pessoa
Viver entre Jacobina e Umburanas, cidades do interior baiano, era estar em contato permanente com a seca. Essa era a realidade de João Raphael Gomes, 24, que, aos sete anos mudou-se para Salvador. Morou no bairro de Mussurunga e viu sua casa ser invadida pela força das águas das enchentes. “De manhã, quando acordava, a casa estava invadida pela água. Lembro que perdi brinquedos e a geladeira”, conta. Estas vivências impactaram intensamente na forma de ele olhar o ambiente ao redor. João Raphael faz parte dos 16% dos jovens brasileiros que combinam interesse, mobilização e ação, conforme a pesquisa Sonho Brasileiro da Política, realizada pela agência de tendências Box1824, em 2014 – um ano após as manifestações de junho.
11639729_1097926523556295_969071597_oJoão Raphael Gomes no trabalho de Multplicador Solar
(Foto: Caio Paganotti)
Após se ambientar com a vida na capital baiana, João, quando tinha 18 anos, dediciu organizar um mutirão para limpar as praias do Farol da Barra. “Foi o começo de tudo”, diz. No ano seguinte, já era voluntário da ONG ambiental 350.org, participou da conferência de jovens na Rio+20 e conheceu Greenpeace no período de campanha sobre a reprodução das baleias em Abrolhos. Desde o início do ano, o baiano integra o projeto Multiplicadores Solares do Greenpeace. Tem como missão trabalhar com crianças, jovens e adultos, tanto para falar da questão da energia solar quanto para discutir políticas públicas. Seu mais recente trabalho foi a instalação de placas solares em um colégio estadual de São Paulo.
De acordo com Edgard Gouveia Júnior, 50, pós-graduado em jogos cooperativos e estudioso do comportamento da juventude, “esse jovem está vindo de todos os lugares. Desde classes economicamente muito altas, onde já não veem tanto sentido na fortuna que a família tem, até jovens de classes muito baixas, em favelas, procurando sentido em melhorar a vida das pessoas, preocupados com o que está acontecendo em volta, se sentindo responsáveis”.
Em termos de atuação, foi-se o tempo em que a juventude era rebelde e levantava as bandeiras da liberdade política, sexual e da igualdade entre os sexos – símbolos da luta contra a ditadura militar no país. Hoje, ela dá provas de que se articula em trabalhos de equipe e tem um leque de causas variadas. Entre as causas com as quais os jovens pesquisados mais atuam estão a educação (34%), a inclusão social (32%), a ambiental (30%) e a igualdade étnica (27%). “As manifestações de 2013 tiveram um grande menu ou agenda de causas diferentes. Foi impressionante”, explica a socióloga especializada em juventude, Mary Garcia Castro, 74.
Para Edgard, criador do Guerreiros Sem Armas, programa de formação de jovens em liderança e empreendedorismo social, e do Play The Call, gincana online com tarefas concretas no mundo real, o jovem não tem um inimigo definido, ele apenas quer fazer. Já Mary acrescenta: “Eu sou fascinada pela juventude de hoje. Ela enfrenta problemas muito sérios ao nível das instituições convencionais com criatividade, sem violência”.
Do grêmio às ruas
Em Salvador, Monique Evelle, 20, é uma jovem que atua na proteção aos direitos humanos. Aos 16 anos, incomodada com o preconceito racial, fundou um grêmio estudantil ainda no ensino médio, nomeado de Desabafo Social, em 2011. Porém, em seu último ano colegial, decidiu mantê-lo e transformá-lo no que é hoje, um coletivo que propõe debater direitos humanos através da Educomunicação. “Quando a gente fala em educação e direitos humanos, a linguagem mais próxima da garotada é a comunicação, seja ela como for”, explica.
O Desabafo Social, seja como blog ou como página no Facebook, também trabalha diretamente com o povo. Monique costuma “entrar em contato com a galera” e saber o que ela pensa. A soteropolitana, que vive no Nordeste de Amaralina, visita comunidades com objetivo de discutir temas polêmicos que estão na boca do povo. “A gente tenta desconstruir temas polêmicos (racismo, homofobia, maioridade penal, entre outros) em cima do que eles já sabem”.
11647407_1103424716339809_1902199592_nMonique em palestra sobre novas mídias na cidade de Iaçu (BA)
(Foto: Marthar Silva)
Apesar de todo o cuidado nas conversas com moradores das comunidades, a jovem conta que em uma das viagens, na Grota do Aterro, em Maceió, “viu a morte”. “Eu nunca tinha visto um lugar como aquele nem em filme. Quando cheguei acompanhada de alguns colegas da região, o dono da boca de fumo já estava lá e apontou uma arma para mim”. Depois de alguns tensos minutos, o traficante deixou Monique explicar o projeto. Aos prantos, ela conseguiu esclarecer a situação e foi liberada.
O coletivo foi reconhecido e ganhou uma sede na Defensoria Pública do Estado da Bahia. Semanas após apresentar o projeto para os defensores, foi proposto um acordo que consiste na concessão do local em troca de aulas ministradas pelo Desabafo Social, na Escola Superior de Defensores Públicos.
Contra a pobreza
Bianca Fernandes, 24, está entre 25% dos jovens brasileiros que fazem sua própria política ajudando pessoas em condições desfavoráveis, segundo pesquisa desenvolvida pela Box1824. Formada em Administração na Ufba, se envolve com causas sociais desde que entrou no ambiente universitário. Participou do movimento Empresa Júnior, atuante na universidade e fomentador do empreendedorismo.
bianca tetoBianca, a primeira da esquerda para a direita, em construção na Cidade de Plástico, em Salvador
(Foto: Vicente Franchini)
O TETO, Organização Não Governamental (ONG) que Bianca faz parte, busca superar a situação de extrema pobreza através da ação conjunta de moradores e voluntários. Sua carreira se iniciou em 2014, quando teve uma das suas experiências mais marcantes com a instituição. Durante a aplicação do questionário socioeconômico em uma comunidade, foi surpreendida ao perceber que falava com um colega de universidade. “Foi surpreendente, desconcertante. Uma pessoa que vivenciava uma realidade diferente da minha, mas compartilhava outra em comum, a Ufba. Às vezes ficamos cegos à essa realidade”, comenta.
Na ONG, atualmente faz parte da coordenação, mas não deixa de colocar a “mão na massa” durante as construções das moradias de emergência, um dos principais projetos da entidade. Edgard Gouveia acredita que o jovem busca a solução. “O jovem tem pressa, tenta resolver aqui e agora. Não pode passar de um mês. Eles querem resolver com projetos menores”, avalia.
Causas sociais e educação
O engajamento em causas sociais veio de berço para Álison Klener, 21. A partir dos oito anos, motivado por sua mãe, auxiliou crianças que consumiam drogas nas ruas de sua cidade natal, Piripá, interior do estado que fica a 650km de Salvador. “Comecei com esse engajamento para mostrar a elas que haviam outras opções, além das drogas”, diz.
Após sua chegada na capital baiana empenhou-se em diversos trabalhos com foco em educação. Em 2013, viajou para a República Tcheca no intercâmbio da AIESEC - do francês, Associação Internacional de Estudantes de Ciências Sociais e Econômicas – porque “sabia que lá tinha uma ferida a ser mexida: os ciganos”. Lá, aplicou lições de coaching liderança, isto é, métodos de desenvolvimento pessoal e motivação, além de ter palestrado em escolas sobre educação global para alunos dos ensinos básico, médio e superior.
Álison conta que no segundo dia do intercâmbio “levou um tapa na cara” ao presenciar uma cena. Depois de fazer uma gincana em grupo com os estudantes, notou que as crianças tchecas rejeitavam o único garoto cigano da classe. Ficou espantado e, no mesmo dia, conscientizou a turma de que todos eram iguais e mereciam respeito.
álison alavancaÁlison em palestra no intercâmbio
(Foto: arquivo pessoal)
Seu projeto mais recente é a Alavanca Universitária, negócio social criado por ele e mais três sócios para dar assistência ao estudante universitário que deseja explorar seus potenciais, no âmbito pessoal e profissional. Nele, Álison explora atividades como criação de mapa de carreiras, apoio na elaboração de currículo e bolsas de estudos para estudantes universitários e do ensino médio com foco em jovens de baixa renda.
Fruto do programa educacional, Bernardo Rabelo, 23, conseguiu se tornar embaixador do Brasil na Confederação Europeia de Empresas Juniores em Bruxelas, na Bélgica. O jovem, nascido no bairro da Liberdade, foi aprovado em dois mestrados no Reino Unido e não pensa em parar. “Planejo liderar o mercado de ecoturismo no Brasil e no mundo”, sonha.
+ GALERIA DE FOTOS
Conheça grandes personalidades que se engajaram desde cedo em grandes causas (clique para mais informações):

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