Homem foi baleado ao reagir a assalto e jovens ficam feridos em briga de gangues durante São João. PM garante ter 850 homens para dar segurança à festa
Três homens foram baleados, dois deles a 20 metros de uma base móvel da Polícia Militar, no Pelourinho, que recebe até hoje a festa de São João. Os casos foram registrados entre a tarde de segunda-feira e a madrugada de ontem. Segundo a PM, os acessos aos locais da festa são monitorados com detectores de metais em seis barreiras e 850 policiais estão em atuação.
PMs controlam um dos acessos ao Pelourinho: mesmo com seis pontos de abordagens, três foram baleados em assalto e briga de gangues (Foto: Arisson Marinho)
|
O efetivo e as barreiras, no entanto, não impediram que, às 4h30 de ontem, Natanael Andrade dos Santos, 21 anos, fosse atingido no braço esquerdo, e um outro rapaz, ainda não identificado, baleado na Rua Padre Agostino Gomes, no Largo do Benin.
Segundo testemunhas, integrantes de facções rivais se envolveram em uma briga, a 20 m de uma base móvel da PM e de um dos pórticos de fiscalização montados pela corporação, na Ladeira do Pelourinho. Segundo testemunhas, dois policiais estavam na base, que tinha ontem uma marca de tiro na chaparia. A PM informou que vai apurar se o disparo na base ocorreu ontem.
Base móvel da PM, estacionada no Largo do Benin, Pelourinho: a 20 m, dois jovens foram baleados em briga
(Foto: Mauro Akin Nassor) |
O homem armado conseguiu fugir. “Foi uma tentativa de homicídio. Um homem tentou matar um desafeto e duas pessoas ficaram feridas”, contou um comerciante que pediu anonimato. No momento dos tiros, a rua estava lotada. "Os clientes estavam nas mesas e cadeiras. Do lado de fora, tinha muito vendedor nas calçadas. Quando começou a confusão uma multidão invadiu o bar”, contou o gerente de um dos bares do Largo do Benin.
Natanael foi encaminhado para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde deu entrada às 5h08. O outro baleado, socorrido por populares, não foi localizado. Natanael contou aos investigadores do posto da Polícia Civil do HGE que não estava envolvido na briga e que foi atingido por uma bala perdida.
Procurada, a assessoria da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) não foi localizada para informar o quadro de saúde da vítima. A Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur), responsável pelas investigações, não forneceu informações sobre o caso.
Em nota, o Departamento de Comunicação Social da PM confirmou que dois homens foram baleados por “um indivíduo (que) efetuou disparos de arma de fogo e atingiu duas vítimas no Largo do Benin, Pelourinho”. Segundo a nota, o 18ª Batalhão da Polícia Militar (Centro Histórico) levantou informações sobre o autor dos disparos com as testemunhas.
O atirador, segundo a PM, já havia sido identificado. Até a noite de ontem, ninguém havia sido localizado ou preso.
Assalto
A primeira ocorrência no Pelourinho foi ainda, na tarde de quarta-feira, no Terreiro de Jesus, onde Manuel Feliciano dos Santos, 48 anos, reagiu a um assalto e foi baleado no braço. O crime ocorreu por volta de 15h20. Manuel contou aos investigadores do posto da Polícia Civil do HGE, que estava caminhando quando foi abordado por um homem armado.
Marca de tiro em chaparia da base: corporação diz que vai apurar caso(Foto: Mauro Akin Nassor)
|
O bandido pediu que a vítima entregasse os pertences, mas Manuel resistiu à abordagem e foi baleado no braço esquerdo. O suspeito conseguiu fugir. O caso foi confirmado pela assessoria de Comunicação da Polícia Civil, que disse que os investigadores aguardam a alta médica para que Manuel possa ser interrogado.
Reclamações
De acordo com os populares, brigas e tiroteios são frequentes na região, principalmente à noite, quando o movimento aumenta por conta dos bares. Integrantes de grupos rivais que frequentam o mesmo espaço provocam brigas e confusões, mesmo com a polícia a poucos metros.
“Eles não respeitam ninguém. Mesmo com a base móvel funcionando 24h por dia, eles se enfrentam”, contou um vendedor que trabalha há dois anos no Taboão. Para os moradores é necessário intensificar o policiamento nas ruas transversais do Largo do Benin que, segundo eles, costumam ser usadas como rotas de fuga pelos bandidos. Segundo os populares, as ruas das Flores e do Taboão são as preferidas.
Vendedores temem que a insegurança afaste os clientes. “Sempre que acontece essas coisas, as pessoas ficam assustadas, com medo de sair de casa. Isso é péssimo para os negócios”, contou o comerciante Gabriel Nunes.
Frequentadores do Pelourinho também reclamaram da insegurança. “Meu namorado foi assalto aqui na semana passada. Levaram o celular dele em uma das ruas transversais do Terreiro de Jesus. A gente vê muitos policiais, mas os crimes ainda acontecem”, contou a administradora Janaina Soares, 27 anos.
Efetivo
Para garantir a segurança durante o São João no Pelourinho, a Polícia Militar informou que está sendo empregado um efetivo de 850 PMs distribuídos em patrulhas, postos elevados de observação (com uso de detectores de metal), barreiras de trânsito nos principais acessos ao evento e com a utilização de viaturas (carros e motos). Os policiais trabalham em escalas de oito ou 12 horas.
PM usa detector de metal: abordagem uma hora antes da festa
(Foto: Arisson Marinho) |
No primeiro dia da festa, no último sábado, cerca de 40 mil pessoas foram conferir as apresentações nos largos e praças do Pelô. Para aumentar a sensação de segurança, parte do efetivo trabalha a pé.
O patrulhamento reúne homens do 18º Batalhão da Polícia Militar e unidades especializadas como Cavalaria, Esquadrão Águia, Batalhão Especializado em Policiamento Turístico, Batalhão de Reforço e Companhia de Polícia e Proteção Ambiental.
Seis barreiras foram instaladas no entorno da festa: na lateral da Catedral Basílica, nas laterais do Palco principal (duas), no Largo do Pelourinho (final), nas ruas Saldanha da Gama e Alfredo de Brito. Em nota, a PM esclarece que as abordagens começam às 15h — uma hora antes do previsto para início dos shows.
Com detector de metal quebrado, revistas ocorrem manualmente | Luana Amaral
Na barreira da PM montada na Praça da Sé, uma das seis de controle para acesso ao Pelourinho, a revista foi feita, ontem, de forma manual — o detector de metais estava quebrado, segundo o soldado Joelson Maciel, responsável pela fiscalização no local.
A Polícia Militar informou que a situação será apurada. Sem o aparelho, que identifica a presença de armas de fogo, os PMs agiam abrindo mochilas e abordando alguns pedestres — a barreira da Praça da Sé tinha o fluxo mais intenso ontem.
“Não dá pra parar todo mundo. O efetivo não é suficiente. Observamos os perfis suspeitos e o que as pessoas estão vestindo. Quando a calça é apertada, já é possível observar que não dá pra guardar nada ali, por exemplo. Além disso, nos comunicamos através do rádio”, disse o cabo Marco Lima, da 22ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/ Simões Filho).
Ele estava posicionado na barreira da Rua Alfredo Brito, onde nenhum pedestre foi abordado durante os dez minutos que o CORREIO acompanhou o trabalho policial. Já no acesso ao Terreiro de Jesus pelo Largo do Benin, onde Natanael Andrade dos Santos, 21, e outro homem não identificado foram baleados, na madrugada de ontem, a Polícia Militar realizou revistas mais detalhadas e com a presença de detectores de metais.
Homens e mulheres estavam sendo parados pela equipe de PMs — formada por pelo menos cinco homens — e tiveram, bolsas e mochilas abertas e verificadas. Apesar de formar pequenas filas em alguns momentos, a medida mais rígida foi aprovada por quem teve de passar pela barreira.
“Acho importante. O Pelourinho já tem um histórico de violência e com a ação policial a gente acaba se sentindo mais seguro”, disse a recepcionista Rayane Oliveira, 26.
SSP não instalou 38 câmeras por causa de tombamento de imóveis
No Pelourinho, das 12 câmeras instaladas, 11 estão em funcionamento – uma está com defeito. Para o Centro Histórico, há previsão de instalação de mais 38 câmeras — o mapeamento de onde elas devem ficar já foi realizado pelo 18º Batalhão de Polícia Militar (Centro Histórico).
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) alega, no entanto, que esbarra no tombamento dos imóveis. A medida de proteção do patrimônio impede a instalação de equipamentos nas fachadas.
O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Carlos Amorim, informou que a SSP deve encaminhar projeto com os pontos onde se pretende instalar as câmeras para entrar em acordo.
Porém, Amorim ressaltou que “fixar artefatos em fachadas é uma normativa que não pode ser flexibilizada”. A SSP tem, em toda a cidade, mais de 300 câmeras sem usar por falta de local de instalar. Há seis meses, 337 kits de câmeras de monitoramento — de um lote de 400 — estão guardados em um depósito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário