Mercado de trabalho na enfermagem não está restrito à área assistencial. 'O enfermeiro é bom coordenador e não existe restrição clara de mercado', afirma Arlei Alves da Silva.
Por Vanessa Fajardo, G1
Depois de trabalhar por dez anos na UTI pediátrica, o enfermeiro Arlei Alves da Silva, de 36 anos, passou a atuar no departamento financeiro do Hospital Albert Einstein, em São Paulo (veja o depoimento no vídeo acima).
Arlei coordena a área da garantia de receita formada por 35 profissionais, que prevê controlar medicamentos e insumos cujo o custo precisa ser repassado aos convênios. O objetivo é evitar a perda de receitas para o hospital.
O enfermeiro acredita que sua experiência na área assistencial foi fundamental para conseguir assumir a nova função. Além do mais, o enfermeiro é reconhecidamente um bom gestor, o que o habilita para atuar em áreas que vão além do cuidado direto com o paciente.
“Há enfermeiros atuando na área comercial, na financeira, em tecnologia da informação, indústria farmacêutica, como representantes comerciais, operadores de planos de saúde e consultores. O leque na atuação é grande. O enfermeiro é bom coordenador e não existe restrição clara de mercado”, afirma Arlei.
Apesar de estar em um departamento que é crucial para a sustentabilidade do hospital, o enfermeiro sente saudades da área assistencial. “Até hoje eu sonho que estou dentro de um quarto, cuidando de um paciente. No sonho, eu sei exatamente quem é a pessoa. Às vezes encontro os pacientes nos corredores, relembro de momentos importantes. Ainda lido bastante com a gratidão das famílias. Isso me move porque sei que o que eu faço hoje contribui para a sustentabilidade do sistema de saúde em geral.”
Técnico x graduado
Antes da graduação em enfermagem, Arlei fez o curso técnico. Para ele, a diferença de atuação entre um e outro é tão grande que pode ser definida como “duas profissões distintas.” “Para um técnico que vai se formar e pensa que vai apenas ganhar novas atribuições, é um ledo engano. O enfermeiro é um gestor da unidade, um gestor do cuidado do paciente, já o técnico faz procedimentos de baixa complexidade.”
Na prática, auxiliares e técnicos de enfermagem aplicam injeções, dão banhos nos pacientes, fazem inalações, controlam sinais vitais, entre outros procedimentos de baixa complexidade. Os enfermeiros, por sua vez, controlam todas as informações dos pacientes, fazem procedimentos mais complexos como a passagem de sonda, aplicação de cateter e punção arterial, além de ser o elo com os demais profissionais da equipe de saúde como médicos, psicólogos e fonoaudiólogos.
Mercado para homens
Uma pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que a equipe de enfermagem que atuava no país, em 2015, é composta por 84% de mulheres. Quando resolveu seguir carreira em enfermagem, Arlei sabia que a profissão era predominantemente feminina – a irmã e a esposa também são enfermeiras.
No entanto, para ele, este nunca foi o problema. Como Arlei atuava na UTI pediátrica, era comum lidar com muitas mulheres, mães amamentando, mas nunca passou por algo constrangedor. “Havia até um bônus de ser homem porque alguns adolescentes preferiam que eu prestasse os cuidados. Todos os enfermeiros que se formaram comigo estão bem colocados. Nunca senti preconceito e não vejo nenhum demérito.”
Para quem quer seguir a carreira, independente do sexo, o enfermeiro reforça que é imprescindível aliar vocação e técnica. “Para trabalhar no cuidado próximo do paciente e de sua família em situação grave e de extrema fragilidade é preciso ter vocação e inteligência emocional. Mas também precisa gostar de estar ali ajudando a pessoa no momento mais difícil da vida dela sem que isso afete sua vida pessoal e seu psicológico.”
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