Se você tem alguma dúvida sobre segurança da informação (antivírus, invasões, cibercrime, roubo de dados etc.) vá até o fim da reportagem e utilize o espaço de comentários ou envie um e-mail para g1seguranca@globomail.com. A coluna responde perguntas deixadas por leitores no pacotão, às quintas-feiras.

>>> LCF Coin
Olá! 
Meu nome é Rafael e gostaria de saber se vocês sabem algo sobre a nova moeda chinesa, chamada LCFHCOIN. É realmente apoiada pelo governo chinês e pelo banco?
Tá rolando muito na Internet essa ideia, se poderem me responder ou fazerem uma matéria com esse assunto agradeço muito. 
Obrigado!
Rafael Araújo

Rafael, o que a LCF Coin garante, até o momento, é um risco (pela exposição de dados pessoais) e os retornos têm ficado na promessa. Mesmo que haja retorno no futuro, há muitas perguntas sem resposta.

Alguns "promotores" do LCF Coin têm dito que essa nova moeda virtual é apoiada pelo governo chinês e pelo banco Rothschild. O que se sabe, sem nenhuma sombra de dúvida, é que a parte ligada ao Rothschild - pelo menos o tradicional Rothschild - é completamente falsa.

De fato, a instituição centenária publicou um comunicado em três idiomas (chinês, português e inglês) sobre isso. Você pode baixar o PDF do comunicado deles em português aqui.

Diz o comunicado:

"Esse esquema pretende ser um fundo de investimentos em moedas virtuais (“bitcoins”), relacionado a "Internet das coisas" e propõe pagar seus investidores em tranches com base no tempo do investimento das pessoas. Tal esquema pode ser considerado irregular em qualquer país."

Como você pode verificar no documento PDF, Rafael, eles sugerem que as pessoas procurem a polícia. O uso do termo "bitcoins" pelo banco, porém, é incorreto. A LCF Coin não tem qualquer relação com o Bitcoin.

Agora, é importante deixar claro que a Rothschild & Co. não é a mesma instituição que estaria ligada à LCF Coin. No site, o nome que consta é o de "Rothschild Investment development (Shenzhen) Co. Ltd.". Resumindo, o nome é diferente, mas muito similar, o que também é um tanto curioso, para dizer o mínimo. Segundo a própria, a "Rothschild Investment development (Shenzhen) Co. Ltd" foi fundada em 2016 e Shenzhen é uma cidade na China. A Rothschild & Co. foi fundada em 1838 em Paris.

Ou seja, embora esta "Rothschild" chinesa use o mesmo nome da tradicional instituição francesa, ela deixa claro - nos detalhes - que não é a mesma. Quem promove a LCF Coin mais se aproveita da confusão do que explica esse detalhe.

Muitos sites especializados em moedas virtuais já declararam que a LCF Coin é uma fraude, e outras declarações ainda mais bombásticas (como o apoio de "líderes" mundiais), embora não tenham sido desmentidas por estes, são claramente falsas. O "lançamento" da moeda virtual, inicialmente prometido para fevereiro, também vem sendo continuamente adiado. O que continua são as campanhas para coletar dados pessoais de interessados, e são essas campanhas - e não o site oficial do projeto - que faz esse marketing fajuto. No site, apenas consta o nome da Rothschild "semelhante". Assim, os supostos "donos" da moeda ficam livres de serem responsabilizados.

De modo geral, qualquer esquema que prometa ganhos rápidos e certos deve ser encarado com muita suspeita. Afinal, se o negócio é tão lucrativo, não valeria a pena sair contando para todos a respeito dele - normalmente é melhor ficar com os lucros para si próprio. Mesmo quando há de fato algum ganho a ser tido, cabe questionar de onde ele vem. Existem na web alguns serviços que de fato pagam as pessoas por responderem questionários, por exemplo. Nesse caso, o pagamento existe pelo tempo que você dedica e a informação que você cede. Mas, é claro, você também está assumindo riscos com isso, pois nem sempre você sabe onde seus dados vão parar.

O que, então, concede o retorno à LCF Coin? Por que ela seria a "próxima" moeda virtual a ganhar valor de mercado e ocuparia o espaço de moedas consolidadas como Bitcoin, do Ethereum ou do Litecoin? Por que o apoio do governo chinês garantiria valor à moeda, se um dos principais atrativos das moedas virtuais é a independência e o uso global?

Entenda o seguinte, Rafael: existem sim casos em que moedas novas resultaram em grandes ganhos para os primeiros que a adotaram. E é claro que essas pessoas foram "evangelistas" da moeda, pois é só através do interesse coletivo que as moedas virtuais ganham valor. Mas isso nunca exigiu dados pessoais de nenhum interessado.

Esta coluna não tem o objetivo de dar sugestões de investimentos ou projetos, Rafael. É claro que novas tecnologias podem surgir a partir de meios diferentes ou inovadores, mas é importante entender como essas diferenças podem ajudar uma moeda. No caso da LCF Coin, o que vem sendo solicitado nas mensagens de divulgação da moeda (dados pessoais) não parece ter qualquer impacto no futuro dela, e há uma grave escassez de informações técnicas sólidas sobre esta moeda.

SAIBA MAIS:
É possível 'investir' em mineração de moedas virtuais?

>>> "Investimento seguro"
Boa tarde,
Meu nome é Daniel e recentemente tenho ouvido bastante a respeito da tal empresa "minerworld", gostaria saber se é um investimento seguro ou não? Muito bom para ser verdade...
Daniel Bittencourt

Daniel, independentemente da idoneidade de qualquer empresa atuante no ramo de moedas virtuais, "investimento seguro" não é o termo apropriado para se usar. Muito pelo contrário.

Os investimentos em moedas virtuais não são cobertos pelas garantias tradicionais do sistema financeiro. Não há controle de fraude (boa parte da demora costumeira do sistema financeiro em geral se deve ao controle de fraudes), não há Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e a maioria das empresas que atua no setor de moedas virtuais nem sequer contrata seguradoras para cobrir prejuízos gerados por fraudes ou falhas operacionais.

Além disso, o mercado de moedas virtuais é extremamente volátil. 

Por isso, trata-se de um investimento de altíssimo risco. O retorno pode ser alto, como também pode ser negativo. É bastante comum que investimentos "seguros" tenham pouco retorno, enquanto investimentos mais arriscados tenham um potencial de retorno maior. Afinal, você corre o risco de perder dinheiro, algo que normalmente não existe nos investimentos "seguros".

Não existe investimento de alta rentabilidade sem risco. Se existisse, todas as pessoas fariam esse investimento e logo não faria sentido oferecer um retorno alto. Ou, por outro lado, trata-se de uma bolha. A crise de 2008, por exemplo, eclodiu por causa de um entendimento incorreto (ou até fraudulento) de que o mercado imobiliário norte-americano podia oferecer retorno alto a risco zero.

A coluna não tem condições de comentar sobre a idoneidade e nem sobre os retornos oferecidos por empresas específicas. Se você pretende entrar nesse meio, cogite também diversificar os seus investimentos.


O pacotão da coluna Segurança Digital vai ficando por aqui. Não se esqueça de deixar sua dúvida na área de comentários, logo abaixo, ou enviar um e-mail para g1seguranca@globomail.com. Você também pode seguir a coluna no Twitter em @g1seguranca. Até a próxima!