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quinta-feira, 18 de junho de 2015

Assassinato de bebê por crianças reduziu maioridade penal na Grã-Bretanha

Há 20 anos, menino de 2 anos foi morto por dois garotos de 10; ONU ainda critica medida. Maioridade penal era de 14 anos

BBC
Mais de 20 anos depois, o assassinato de um menino de dois anos por dois garotos de 10 anos permanece sendo uma das principais referências em discussões sobre maioridade penal na Grã-Bretanha.
Venables (à esquerda) e Thompson tinham apenas 10 anos quando mataram James Bulger
Reprodução/BBC
Venables (à esquerda) e Thompson tinham apenas 10 anos quando mataram James Bulger
O caso oferece interessantes pontos de comparação no debate sobre o tema no Brasil, especialmente depois da redução da idade de 18 para 16 anos ter sido aprovada por uma comissão especial do Congresso, em sessão realizada na noite de quarta-feira.
James Bulger foi raptado em um shopping center de Liverpool e morto, com requintes de crueldade, pelos garotos Robert Thompson e Jon Venables. O caso teve repercussão internacional e causou surpresa em vários países pela decisão das autoridades britânicas de julgar Thompson e Venables em um tribunal comum, em 1993.
Estrutura
Na época, a maioridade penal era de 14 anos. Mas a promotoria conseguiu levar Thompson e Venables a julgamento por tribunal comum porque conseguira provar que a dupla tinha plena consciência de que tinha cometido uma ação extremamente errada.
Cinco anos depois, durante o governo trabalhista de Tony Blair, político que era da oposição durante o caso Bulger e criticara abertamente a estrutura legal vigente, a maioridade penal britânica foi reduzida de 14 para 10 anos de idade.
No mundo ocidental, apenas Escócia (oito anos), Nigéria e Suíça (sete) têm idade criminal mais baixa.
A ONU critica periodicamente o governo britânico pelo que considera uma faixa etária inadequada, e organizações de defesa dos direitos da criança regularmente tentam forçar uma discussão mais formal no Legislativo.  
Veja casos envolvendo jovens assassinos pelo mundo
Mathieu Moulinas, França: o jovem de 17 anos atraiu a colega de classe Agnés Marin para uma floresta, a violentou e incendiou seu corpo em 2011. Foto: Reprodução/Internet
Mathieu Moulinas, França: antes disso, em 2010, ele havia estuprado e matado outra vítima. O adolescente foi condenado a prisão perpétua em 2013. Foto: Reprodução/Internet
'Garota A', Japão: criança de 11 anos cujo nome não foi revelado matou Satomi Mitarai, 12, no recreio, em 2004. Ela ficou 2 anos em reformatório. Foto: Reprodução/Internet
John Katehis, EUA: em 2009, o jovem de 16 anos ofereceu sexo em anúncio. Um repórter de 47 anos respondeu e acabou morrendo no encontro. Foto: Reprodução/Murderpedia
John Katehis, EUA: no tribunal, ele disse que se defendeu. Mas perícia não confirmou a história e ele foi sentenciado a 25 anos de prisão em 2011. Foto: Reprodução/Murderpedia
Sajal Barui, Índia: em 1993, com 15 anos, ele matou pai, meio irmão e madrasta. Condenado, fugiu da prisão e voltou em 2011, acusado de roubo. Foto: Reprodução/Internet
Christopher Pittman, EUA: usuário de medicamentos controlados, o jovem de 12 anos matou os avós e incendiou sua casa em 2001. Foto: Reprodução/Murderpedia
Christopher Pittman, EUA: em 2005 ele foi julgado como adulto e pegou 30 anos de prisão. Após pedir revisão da pena, ele foi sentenciado a 25 anos. Foto: Reprodução/Murderpedia
Eric Borel, França: em 1995, o adolescente pegou o revolver do padrasto e atirou nele, no meio irmão, na mãe e em outras dez vítimas. Foto: Reprodução/Murderpedia
Eric Borel, França: depois de cometer os crimes, ele se matou com um tiro na testa. Entre as vítimas estava seu melhor amigo. Foto: Reprodução/Murderpedia
Melinda Loveless, EUA: com ciúme da amizade de Shanda Renee Sharer , 12, e de Amanda Heavrin, 16, a jovem decidiu matar Shanda a fim de separá-las. Foto: Reprodução/Youtube
Melinda Loveless, EUA: com outras amigas, Melinda torturou a jovem e ateou fogo nela ainda viva. Ela foi sentenciada a 35 anos de prisão. Foto: Reprodução/Youtube
Kevin Madden, Canadá: o jovem de 12 anos (foto) foi morto pelo próprio irmão e seus amigos. Em 2006 o acusado foi condenado a prisão perpétua. Foto: Reprodução/Internet
Luke Mitchell, Escócia: com então 15 anos, ele matou a namorada de 14 em 2003. Ela foi encontrada despida e mutilado. Foto: Reprodução/Youtube
Luke Mitchell, Escócia: levado a julgamento, ele foi sentenciado, em 2005, a 20 anos de prisão por ter matado Jodi Jones, 14 . Foto: Reprodução/Youtube
David Mota Nogueira, Brasil: depois de atirar na professora Rosileide Queiros de Oliveira (foto) em 2011 o aluno de 10 anos se matou. Ela sobreviveu. Foto: Reprodução/Youtube
Rachel Shoaf, EUA: em 2012, a jovem de 16 anos esfaqueou Skylar Neese até a morte e deixou o corpo em uma floresta. Foto: Reprodução/Youtube
Rachel Shoaf, EUA: ela e outra amiga alegaram que mataram por não querer mais a amizade da vítima. Em fevereiro ela foi sentenciada a 30 anos de prisão. Foto: Reprodução/Youtube
Mathieu Moulinas, França: o jovem de 17 anos atraiu a colega de classe Agnés Marin para uma floresta, a violentou e incendiou seu corpo em 2011. Foto: Reprodução/Internet
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E mesmo vozes favoráveis ao status quo mostram preocupação. E elas, a de Laurence Lee, advogado de defesa de Venables no julgamento de 1993. Em entrevista à BBC Brasil, Lee descreveu o julgamento dos meninos como "um circo alimentado pela mídia e por uma sociedade sedenta de vingança".
Mesmo assim, ele defende o patamar de 10 anos para crimes violentos, "porque no mundo de hoje, em que há tanta disponibilidade de informações, crianças dessa idade sabem muito bem a gravidade de um ato como o homicídio, por exemplo".
Mas Lee faz a ressalva de que a maioridade penal "é apenas um número se não for acompanhada de uma estrutura que simplesmente não criminalize crianças ou adolescentes".
"Eles foram tratados como adultos, não tiveram o acompanhamento psicológico necessário e isso os marcou para sempre. Isso, na minha opinião, é o principal ponto na discussão sobre criminalidade juvenil. Se queremos reabilitação ou retribuição. Caso contrário, discutir a maioridade penal é apenas uma questão de números", completa Lee.
Tal argumento é endossado por um dos mais vocais defensores de uma elevação da idade mínima no país. Richard Garside, diretor do Centro para Estudos Criminais e Jurídicos, acredita que "o primeiro passo é acabar com a ideia de que é preciso viver em extremos".
"Não fazer coisa alguma ou simplesmente prender crianças e adolescentes são medidas que não levam em como baixos níveis de bem-estar social e educação, por exemplo. Isso antes mesmo de discutirmos o absurdo da legislação na Grã-Bretanha, que simplesmente dá poderes para que crianças de 10 anos sejam presas.", diz Garside.
Para o especialista, a maioridade de 10 anos é um disparate diante de outros limites etários impostos para crianças de adolescentes britânicos.
"Na Grã-Bretanha, jovens só podem fazer tatuagens e votar aos 18 anos, e a idade legal de consentimento sexual é 16. São todas decisões baseadas em julgamentos sobre a maturidade intelectual, moral e mental de crianças, então fico sem entender como a mesma lógica não é aplicada ao sistema penal".
Chloe Darlington, porta-voz da Children England, rede britânica de ONGs ligadas aos direitos da criança, vê na baixa idade de responsabilidade criminal um fator que deixa ainda mais vulneráveis crianças em dificuldades socioeconômicas.
"Criminalizar crianças que já vivem em circunstâncias difíceis não é benéfico nem para essas crianças nem para a sociedade. O bem-estar das crianças precisa estar à frente de qualquer demanda do público por retribuição (para algum delito cometido)", diz Darlington.
Como no Brasil, o assunto da maioridade penal é polêmico na Grã-Bretanha e tentativas de mudanças na legislação de 1998 foram travadas no Parlamento Britânico.
O impacto da redução da maioridade penal de 14 para 10 anos é incerto. As estatísticas oficiais mostram delitos cometidos por menores de 18 anos - e não revelam dados de idades específicas.
O mais recente relatório do Ministério da Justiça britânico, diz que cerca de 90.800 delitos foram cometidos por menores de 18 anos no biênio 2013/14. Diz também que menos de 3 mil receberam sentença de prisão.
Entre os casos de crimes cometidos por menores de 14 anos e que viraram notícia, o que mais chamou a atenção, desde o caso Bulger, foi o de dois meninos de 10 e 11 anos de idade condenados a cinco anos de prisão em 2010 depois de um violento ataque contra duas crianças em Doncaster, no norte da Inglaterra.
Os assassinos de Bulger, Thompson e Venables, foram colocados em um programa especial de detenção e enviados para duas unidades especializadas na reabilitação de menores, onde ficaram detidos por oito anos, com acompanhamento psicológico e educacional e o direito de receber visita de parentes.
Ao saírem da prisão, eles e os pais receberam novas identidades e as famílias foram transferidas para diferentes áreas da Grã-Bretanha, depois de receberem ameaças de morte.
Venables, porém, voltou a ser preso em 2010, por distribuir e baixar vídeos de pornografia infantil na internet. Foi solto novamente em 2013, sob nova identidade e com nova relocação.
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    IG

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