Organização para a Proibição de Armas Químicas confirmou a utilização de gás sarin em ataque em Idlib, ocorrido em abril. Mais de 80 pessoas morreram.
O serviço de inteligência da França atribuiu nesta sexta-feira (30) o ataque com gás sarin contra a cidade de Khan Sheikhoun, que deixou mais de 80 mortos e mais de 200 feridos, ao governo de Bashar al-Assad.
A Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq) divulgou em relatório nesta sexta em que também conclui que o gás foi utilizado na ação de 4 de abril, na província de Idlib, embora não tenha mencionado quem seria o responsável pelo ataque. Entre as vítimas, estavam várias crianças.
A agressão levou os Estados Unidos a lançarem um ataque com mísseis de cruzeiro a uma base aérea da Síria, a primeira operação militar deliberada norte-americana contra o governo de Assad nos mais de seis anos de conflito.
O documento francês, de seis páginas, elaborado pelos militares e pelos serviços de inteligência estrangeira da França e visto pela Reuters - disse que Assad ou membros de seu círculo íntimo ordenaram o ataque.
Em entrevistas concedidas desde 4 de abril, Assad disse que os indícios de um ataque com gás venenoso são falsos e negou que seu governo já tenha utilizado armas químicas.
Amostras obtidas no local do impacto e de uma amostra de sangue de uma vítima apontaram a presença do gás sarin. De acordo com o estudo francês, entre os elementos encontrados nas amostras estava a hexamina, uma marca registrada do sarin produzido pelo governo sírio.
"Sabemos de uma certa fonte que o processo de fabricação das amostras tiradas é típico do método desenvolvido em laboratórios sírios", afirmou o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Marc Ayrault.
"Este método é a assinatura do regime e é o que nos permite estabelecer a responsabilidade do ataque. Sabemos porque guardamos amostras de ataques anteriores que conseguimos usar para comparar".
O documento disse que as descobertas combinaram com os resultados de amostras obtidas pela inteligência da França, incluindo uma granada intacta, de um ataque em Saraqib em 29 de abril de 2013, que potências ocidentais acusaram Damasco de ter levado a cabo.
O relatório também disse que os serviços de inteligência têm conhecimento de um caça Sukhoi 22 do governo sírio que alvejou Khan Sheikhoun seis vezes em 4 de abril e que amostra coletadas no local são compatíveis com um projétil de lançamento aéreo que continha munições repletas de sarin.
O documento ainda disse que os grupos jihadistas da área não têm capacidade para desenvolver e lançar tal ataque e que o Estado Islâmico não estava na região.
Essa não é a primeira vez que a utilização do gás sarin foi apontada. Em abril, o embaixador da Grã-Bretanha na Organização das Nações Unidas (ONU), Matthew Rycroft, afirmou que cientistas britânicos encontraram indícios de gás sarin ou substância semelhante no ataque.
O sarin inibe a ação de uma enzima que desativa os sinais que as células nervosas humanas transmitem aos músculos para relaxá-los. Isso faz com que o coração e outros músculos - incluindo os envolvidos na respiração - tenham espasmos. A exposição ao gás pode causar desmaios, convulsões e levar à morte por asfixia em minutos.
Opaq
As descobertas da Opaq serão abordadas por um painel conjunto com Organização das Nações Unidas para determinar se as forças do governo sírio estão por trás do ataque.
"O lançamento que causou essa exposição provavelmente foi iniciado no local onde agora há uma cratera na estrada. A conclusão da missão de pesquisa é que tal lançamento só pode ser determinado como o uso de sarin, como uma arma química", diz o relatório.
O mecanismo de investigação conjunta Opaq-ONU já determinou que as forças do governo sírio foram responsáveis pelos ataques em três vilarejos com cloro em 2014 e 2015, e que o grupo Estado Islâmico usou gás mostarda em 2015.
Uma equipe da missão de investigação da Opaq foi designada para investigar 24 horas depois do alerta sobre o ataque, mas que por motivos de segurança esse grupo não pôs visitar a cidade.
O grupo participou de autópsias e recopilou amostras biomédicas dos feridos, entrevistou testemunhas e recebeu amostras do entorno ambiental.
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