Londres é assombrada por incêndios desde pelo menos o longínquo ano de 1666, quando o fogo que começou numa padaria de Pudding Lane, se alastrou pela City, destruiu mais de 13 mil casas, a Catedral de São Paulo e provocou a razia da cidade medieval. Até hoje, um monumento – “The Monument”, como é chamado – marca o local original do incêndio.
É chocante que as chamas tenham podido se alastrar em segundos pela Grenfell Tower, no bairro de classe alta de Kensington, graças a um revestimento plástico colocado numa reforma concluída no ano passado, ao custo de £ 10 milhões. Os 17 mortos, com o lançamento de bebês e moradores saltando pelas janelas, revelam o verdadeiro custo da irresponsabilidade.
A preocupação com a segurança contra o fogo, tantas vezes ignorada aqui no Brasil – basta lembrar, em tempos recentes, o descaso que permitiu a tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria (RS) –, foi nos últimos anos deixada de lado também numa cidade cuja própria história está associada ao Grande Incêndio de 1666.
Até hoje, a divisão entre os andares na maior parte das habitações londrinas é de madeira. São raros os prédios altos usados como moradia. A maioria daqueles construídos até os anos 1970, como a Grenfell Tower, conta apenas com um lance de escadas. Não há, portanto, as proverbiais escadas de incêndio ou saídas de emergência.
O último incêndio de proporções trágicas ocorreu em 2009, num edifício de 1958 conhecido como Lakanal House, no bairo de Camberwell. Houve seis mortos, entre eles duas crianças e um bebê. Na ocasião, o alastramento das chamas também foi atribuído a reformas que descuidaram da segurança contra o fogo.
Nos anos 1990, o arquiteto Sam Webb fez um levantamento nas centenas de prédios que servem de moradia no Reino Unido, que veio a público na época do incêndio em Camberwell. De acordo com esse levantamento, metade dos edifícios não satisfaz as condições mínimas de prevenção de incêndios.
Diante disso, até que os britânicos têm tido sorte. Entre 2008 e 2014 (último ano para o qual estão disponíveis dados globais), as mortes por incêndios caíram de 475 para 322 no Reino Unido, segundo o relatório World Fire Statistics. Ficaram em 0,5 para cada 100 mil habitantes em 2014 – patamar baixo, se comparado à amostra de 42 países, cuja média ficou em 1,9.
O Brasil não faz parte dessa amostra, mas o relatório aponta que a situação por aqui não é muito diferente da britânica. Reino Unido e Brasil pertencem ao mesmo grupo de países, que reúne aqueles com média de 200 a 1000 mortes anuais causadas por incêndios. Em 2011, segundo dados do Instituto Sprinkler, houve 1.051 mortos por incêndio, ou também 0,5 para cada 100 mil.
Até 1% do PIB global é perdido todo ano em incêndios, de acordo com a Organização Internacional para a Padronização (ISO). O custo da prevenção é bem inferior a isso, entre 0,1% e 0,4% do PIB, dependendo do país, de acordo com a consultoria Geneva Association.
Não há, portanto, argumento racional para deixar de cumprir todas as normas estabelecidas para evitar o pior. É verdade que elas custam tempo, dinheiro e paciência. Durante quase todo o tempo, parecem não servir para nada. É apenas quando o pior acontece, como em Santa Maria ou Kensington, que parecemos acordar.
É chocante que as chamas tenham podido se alastrar em segundos pela Grenfell Tower, no bairro de classe alta de Kensington, graças a um revestimento plástico colocado numa reforma concluída no ano passado, ao custo de £ 10 milhões. Os 17 mortos, com o lançamento de bebês e moradores saltando pelas janelas, revelam o verdadeiro custo da irresponsabilidade.
A preocupação com a segurança contra o fogo, tantas vezes ignorada aqui no Brasil – basta lembrar, em tempos recentes, o descaso que permitiu a tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria (RS) –, foi nos últimos anos deixada de lado também numa cidade cuja própria história está associada ao Grande Incêndio de 1666.
Até hoje, a divisão entre os andares na maior parte das habitações londrinas é de madeira. São raros os prédios altos usados como moradia. A maioria daqueles construídos até os anos 1970, como a Grenfell Tower, conta apenas com um lance de escadas. Não há, portanto, as proverbiais escadas de incêndio ou saídas de emergência.
O último incêndio de proporções trágicas ocorreu em 2009, num edifício de 1958 conhecido como Lakanal House, no bairo de Camberwell. Houve seis mortos, entre eles duas crianças e um bebê. Na ocasião, o alastramento das chamas também foi atribuído a reformas que descuidaram da segurança contra o fogo.
Nos anos 1990, o arquiteto Sam Webb fez um levantamento nas centenas de prédios que servem de moradia no Reino Unido, que veio a público na época do incêndio em Camberwell. De acordo com esse levantamento, metade dos edifícios não satisfaz as condições mínimas de prevenção de incêndios.
Diante disso, até que os britânicos têm tido sorte. Entre 2008 e 2014 (último ano para o qual estão disponíveis dados globais), as mortes por incêndios caíram de 475 para 322 no Reino Unido, segundo o relatório World Fire Statistics. Ficaram em 0,5 para cada 100 mil habitantes em 2014 – patamar baixo, se comparado à amostra de 42 países, cuja média ficou em 1,9.
O Brasil não faz parte dessa amostra, mas o relatório aponta que a situação por aqui não é muito diferente da britânica. Reino Unido e Brasil pertencem ao mesmo grupo de países, que reúne aqueles com média de 200 a 1000 mortes anuais causadas por incêndios. Em 2011, segundo dados do Instituto Sprinkler, houve 1.051 mortos por incêndio, ou também 0,5 para cada 100 mil.
Até 1% do PIB global é perdido todo ano em incêndios, de acordo com a Organização Internacional para a Padronização (ISO). O custo da prevenção é bem inferior a isso, entre 0,1% e 0,4% do PIB, dependendo do país, de acordo com a consultoria Geneva Association.
Não há, portanto, argumento racional para deixar de cumprir todas as normas estabelecidas para evitar o pior. É verdade que elas custam tempo, dinheiro e paciência. Durante quase todo o tempo, parecem não servir para nada. É apenas quando o pior acontece, como em Santa Maria ou Kensington, que parecemos acordar.
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