Discurso de Patricia Arquette e campanha contra machismo no tapete vermelho expõem desigualdade de gêneros na indústria
É a imagem-símbolo do Oscar 2015: Meryl Streep e Jennifer Lopez vibrando no momento em que Patricia Arquette discursa a favor da igualdade de salários e de direitos para todas as americanas. O grito feminista começou no tapete vermelho e mostrou, mais uma vez, que ampliar a participação das mulheres é das questões mais urgentes de Hollywood.
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O debate sobre a desigualdade de gêneros em Hollywood é antigo, mas vem ficando mais quente e público desde 2010, quando Kathryn Bigelow se tornou a primeira mulher a ganhar o Oscar de direção. Na temporada de prêmios que terminou neste domingo (22), as oportunidades femininas em frente e por trás das câmeras foram assunto recorrente.
A própria Arquette tocou no assunto várias vezes ao aceitar prêmio anteriores. No comando do Globo de Ouro, Tina Fey e Amy Poehler fizeram uma série de piadas feministas, a mais famosa envolvendo Amal Alamuddin, a mulher do ator George Clooney.
A não indicação de Ava DuVernay ("Selma") ao Oscar de direção provocou comoção. E e-mails vazados pelos hackers que atacaram a Sony Pictures comprovaram o que todos sabiam: atrizes ainda recebem salários mais baixos do que os dos homens (no caso, Jennifer Lawrence ganhou menos do que Jeremy Renner em "Trapaça").
Cate Blanchett e #AskHerMore
O debate já tinha sido marcante no Oscar do ano passado, quando Cate Blanchett pediu mais histórias centradas em protagonistas femininas.
"Filmes com mulheres não são um nicho. As pessoas querem vê-los e eles dão dinheiro. O mundo é redondo, pessoal."
A atriz também foi considerada precursora de um movimento contra o machismo no tapete vermelho.
No prêmio do Sindicato dos Atores do ano passado, ela questionou um cinegrafista que a filmava da cabeça aos pés: "Você também faz isso com os homens?"
Neste ano, o grupo Representation Project promoveu uma campanha (#AskHerMore ou "pergunte mais a ela") para pressionar os entrevistadores do tapete vermelho a fazer questões melhores para as atrizes, com foco no trabalho, não no vestido.
É difícil afirmar com precisão se a campanha deu resultado. Julianne Moore foi questionada tanto sobre o mal de Alzheimer quanto sobre seu cachorro. Sienna Miller, sobre o que sentiu ao ler o roteiro de "Sniper Americano" e como foi ser dirigida por Clint Eastwood. Felicity Jones respondeu se era verdade que recebeu uma cantada de Stephen Hawking.
Reese Witherspoon, que tinha aderido à campanha no Twitter, foi questionada especificamente sobre o tema e respondeu: "Somos mais do que nossos vestidos. É difícil ser uma mulher em Hollywood ou em qualquer indústria."
Muitos comemoraram, também a ausência da Mani-Cam, um minitapete vermelho do canal E! no qual as atrizes são convidadas a "desfilar" os dedos para mostrar a manicure e as joias. Recentemente, Julianne Moore e Jennifer Aniston se recusaram a participar da brincadeira, o que aumentou as já existentes críticas à emissora.
Segundo o E!, porém, a Mani-Cam não apareceu pelo fato de o espaço do canal no tapete vermelho do Oscar ser menor do que em outras premiações. Mas depois de tantas reclamações, é bem possível que a iniciativa saia de cena de vez.
Melhores papéis
Mais difícil será conseguir a igualdade de oportunidades pedida por Blanchett e Arquette. Se é palco para discursos pró-diversidade, o Oscar também é reflexo da falta delas: entre os oito indicados a melhor filme, nenhum tinha uma mulher como protagonista. E entre os que foram premiados, só dois: "Para Sempre Alice" e "Ida", que é polonês.
De acordo com um estudo da San Diego State University, apenas 12% dos cem filmes de maior bilheteria nos Estados Unidos em 2014 foram protagonizados por mulheres, uma queda em relação aos 15% do ano anterior.
Dados apontam que os papéis femininos são mais comuns e melhores quando há mulheres por trás das câmeras - como diretoras ou roteiristas, por exemplo.
Mas aí vem outro problema: segundo o mesmo estudo, só 7% dos 250 campeões de bilheteria tem mulheres na direção, uma porcentagem inferior à registrada em 1998.
Não se trata, portanto, de questão simples de resolver. Mas o Oscar deste ano comprovou que o debate está em pauta e com cada vez mais forte. Se quiser estar à frente da mudança, a Academia pode começar ampliando o número de mulheres entre seus membros - hoje, 77% dos integrantes são homens.
Premiadas em 2015
Além de Moore (melhor atriz) e Arquette (melhor atriz coadjuvante), outras mulheres foram reconhecidas no Oscar 2015. A produtora Kristina Reed, de "Operação Big Hero", dividiu o troféu de animação com Patrick Osborne.
A vitória de "Citizenfour" como melhor documentário rendeu estatuetas para a diretora Laura Poitras e para a produtora Mathilde Bonnefoy, além de Dirk Wilutzky (produtor).
O troféu de documentário de curta-metragem foi para "Crisis Hotline: Veterans Press 1", um filme dirigido por Ellen Goosenberg Kent e produzido por Dana Perry.
"O Grande Hotel Budapeste" rendeu prêmios a três mulheres: Milena Canonero levou figurino; Frances Hannon dividiu melhor cabelo e maquiagem com Mark Coulier; e Anna Pinnock ganhou direção de arte em parceria com Adam Stockhausen.
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