Consumidores extrapolam gastos, não conseguem pagar fatura e caem em bola de neve
Altas taxas.
Por mês, juros variam de 12,6% a 14,9% e, se o consumidor quitar só a parcela mínima da fatura, dívida cresce ainda mais
PUBLICADO EM 19/01/15 - 04h00
O cartão de crédito veio para facilitar a
vida financeira, mas se tornou um pesadelo para grande parte da
população brasileira. Seu mau uso levou 72,8% dos endividados e
inadimplentes na capital a perderem noites de sono, no último mês. Isso
porque, segundo pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo de Minas (Fecomércio), 72 a cada cem endividados têm o cartão
como a principal dívida. Segundo a Fecomércio, em dezembro de 2014 foi
registrado um aumento de 19,15% na inadimplência em relação a dezembro
de 2013.
A economista da Câmara de Dirigentes
Lojistas (CDL) Ana Paula Bastos garante: a principal causa de
endividamento é, sim, a falta de planejamento no uso do cartão. Os juros
são os maiores do mercado e variam entre 12,6% e 14,9% ao mês. “É
preciso se conscientizar que, no momento em que usam o cartão, as
pessoas estão tirando dinheiro do bolso. Devem incluir a compra no
orçamento do mês e pagar à vista”, orienta.
Não foi o que fez a assistente
administrativa Alexandra Maria da Silva, 40, logo que fez um cartão, há
20 anos. Ela conta que se empolgou pela facilidade. “Foram tantos
parcelamentos, pagando somente o valor mínimo que, no final, eu estava
trabalhando só para pagar o cartão”, lembra.
O número de consumidores que usaram o
crédito rotativo, ou seja, pagaram apenas a parcela mínima, também
cresceu, segundo os últimos números disponíveis pela CDL, de 40,7% em
2012 para 42,3% em 2013.
Esse também foi o caso de um auxiliar de
cozinha, que aceitou contar seu caso, sem ter o nome divulgado. Por não
ter o valor integral da fatura de R$ 1.200, passou dois anos pagando o
mínimo. Ao final desse período, a dívida já ultrapassava R$ 3.000.
“Dividi a fatura em vários meses, imprimi as parcelas, colei no armário e
cada uma que pagava, era um alívio”, lembra.
SUFOCO. Após cancelar um
cartão, Yáskara Moreira, 24, teve o nome negativado, mas não por causa
de descontrole. A jovem, que fazia faculdade e era beneficiária do
Financiamento Estudantil (Fies), quase teve o programa de financiamento
estudantil cancelado. Ela desistiu do cartão, pediu cancelamento, mas o
serviço não foi efetivado. Quando descobriu, já devia R$ 1.000 em taxas.
“É preciso ficar atento. Entrei na Justiça, mas arquei com o prejuízo.”
Apesar de controlada nos gastos, a dona de
casa Lélia Ferreira, 64, passou sufoco. Há cinco anos, ela costumava
parcelar as compras do mercado, mas se deparou com um imprevisto.
“Deixei de receber um dinheiro e tive de pagar parcela mínima. Quitar
essa dívida foi difícil, por causa dos altos juros. Agora, só à vista”,
garantiu.
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