Além de discos, livros e um filme co-produzido pela Globo, Elis Regina poderá virar marca de carro
PUBLICADO EM 15/03/15 - 03h00
Elis Regina não para. Desde quando seu coração sofreu um infarto pela
combinação fatal de álcool e cocaína no trágico 19 de janeiro de 1982,
ela deixou no ar mais do que lembranças apimentadas e discos ecoando seu
vocal indecente e atemporal. “É um dom, uma certa magia”, como canta
Milton Nascimento em “Maria, Maria”, uma das diversas canções dele
inspiradas na mulher e consequentemente em Pimentinha, sua paixão
declarada. Até hoje, 33 anos depois de sua morte, a voz e a história de
Elis são escavadas à procura de revelações que ano após ano se
materializam em relançamentos inéditos para constatar a mesma máxima:
Elis ainda é a maior cantora do Brasil.
“Parece um clichê, mas é a verdade: Elis é a maior cantora do Brasil
porque ninguém conseguiu levar a vida para o palco como ela fez. O dia
de hoje sempre influenciaria o show de amanhã para ela. E ela estudou
música para chegar lá também, além de ter nascido Elis, simplesmente”,
disseca o jornalista Julio Maria, autor da segunda biografia lançada da
artista, “Nada Será Como Antes”, uma das principais novidades em
homenagem a Elis neste 2015 emblemático.
Em 2015, mais precisamente neta terça-feira (17), quando a Pimentinha
completaria 70 anos, a epígrafe de maior voz do país segue elevada para
ela, só que agora a um patamar pop jamais visto nas comemorações que
cercam a artista. Já em fevereiro, Elis foi consagrada pela escola de
samba Vai-Vai, vencedora do Carnaval de São Paulo com o enredo
“Simplesmente Elis: A Fábula de uma Voz na Transversal do Tempo”. O
samba levou Maria Rita a desfilar de princesa no Sambódromo do Anhembi e
se render às lágrimas sem qualquer pudor. “É difícil segurar as pernas e
a emoção nessa hora. Minha mãe sempre irá me transtornar no bom
sentido, parece me impulsionar à frente toda vez que uma música sua
toca. Por isso acho as homenagens tão importantes”, diz a cantora,
caçula Elis Regina com César Camargo Mariano. “É como se a cada nova
homenagem, a gente também conhecesse um pouco mais dela. Não li os
livros (biografias sobre Elis) e não quero saber nada do filme até estar
pronto. Gosto do choque”, completa o músico Pedro Mariano, primogênito
do casal.
Estratégia
Como de praxe, as principais homenagens à
Pimentinha serão capitaneadas pelo empresário João Marcelo Bôscoli, 44,
primeiro filho de Elis, fruto de sua união com Ronaldo Bôscoli e
principal curador da obra da mãe. Aproveitando o aniversário de 70 anos,
além de reeditar o clássico álbum “Elis” (1972) e pretender lançar um
coleção de shows inéditos de Elis ano que vem, ele diz estar decidido a
lustrar a figura de Elis ao longo do tempo e fixar seu nome como uma
marca. “Enquanto eu estiver vivo vai ser assim: não teremos um ano sem
um lançamento da Elis. Temos muita coisa nestes 70 anos e tudo é por um
motivo: com certeza você conhece a Carmem Miranda e a Elizeth Cardoso,
mas quase ninguém sabe uma música delas de cabeça. Por que? Porque não
tiveram as imagens trabalhadas ao longo dos anos. Quero ser um exemplo
nesse sentido”, justifica o empresário.
Previsto para entrar no ar terça-feira, 17, o site oficial é o primeiro oficial dedicado à venda de produtos com o rosto e o nome de Elis Regina estilizados. Até agora, a loja virtual (acesse aqui)
conta com canecas, camisetas, capas para Iphone e notebook, almofadas,
squeezes, além de discos e DVDs. Mais do que uma loja de souvenir, João
Bôscoli pretende concentrar a venda de produtos inéditos no site. “Quero
levar os lançamentos para o espaço virtual e produtos que ainda estão
por vir. Há 32 anos eu vou à avenida Teodoro Sampaio, em São Paulo, e
vejo camisetas e pôsters da Elis à venda. Isso vai continuar a existir,
não quero processar ninguém ou tirar o ganha-pão de comerciantes. Isso é
legal para a memória da Elis. Mas quero poder oferecer tudo numa
qualidade legal, entende? O cara vai poder usar um boné da Elis, se
quiser. E hoje, não usa porque não tem à venda”, diz.
Por meio da empresa de cultura pop BandUp!, da qual João Bôscoli é
sócio, ele detém o direito para desenvolver lojas virtuais de 130
marcas, incluindo artistas como Elvis Presley, AC/DC, Kiss, Madonna, Ray
Charles, Beatles, Raul Seixas, Tim Maia, além dos contemporâneos Ivete
Sangalo, Luan Santana e Anitta. Cauteloso, o primogênito de Elis toma
cuidado para não transformar a mãe em uma deusa pop envolta numa nuvem
de marketing artificial, da qual ela nunca pertenceu em vida. “A gente
não pode esquecer que não estamos falando do Michael Jackson, que se
permitia ser garoto propaganda da Pepsi. Com a Elis não dá. Temos senso.
Ela nunca aprovaria uma coisa dessas com a sua imagem, certeza”, crava.
Excêntrica
Nem por isso Elis está blindada a
extravagâncias ou projetos maiores. Em conversação com duas empresas
estrangeiras, João Bôscoli revela que pretende relançar o tradicional
microfone norte-americano Shure SM58 com a assinatura de Elis. Seria um
acalanto para fãs e “um mimo” aos fanáticos que trabalham com o
amplificador vocal popularizado por The Who e Rolling Stones nos anos
1960. “O mais difícil é que as marcas não fazem relançamento de
microfones com frequência. Eu quero da Shure, porque foi o mais usado na
carreira de Elis. Se demorar muito, faço o nosso, vejo outras opções.
Só vou avisando que o microfone não vai dar a ninguém a potência vocal
de Elis. Tem que saber cantar”, brinca o empresário.
Outra surpresa excêntrica que parece brincadeira é a possibilidade de
Elis estampar a assinatura de um carro italiano, em uma linha própria
como o Xara Picasso da Citroën. A ideia nasceu depois que o cineasta
Hugo Prata começou a produzir a primeira cinebiografia de Elis Regina,
em co-produção com a Globo Filmes, prevista para chegar às telonas em
2016. “A Elis usava um carro de uma marca italiana em especiais de
televisão. Conversando com a marca, eles aventaram a possibilidade de
entrar no filme, e divulgarmos uma linha de carros da Elis em 2016. Uma
dos detalhes seria ter um carro com um puta som e um karaokê de quebra,
com várias canções da Elis para os fãs cantarem”, elucida Bôscoli.
Exposição
A exposição “Viva Elis”, lançada em 2012 para lembrar os 30 anos da
morte da Pimentinha, será retomada em novo formato por João Marcelo
Bôscoli no segundo semestre de 2016. Sob o nome “Elis 70”, a homenagem
tem previsão de estrear no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo – e
rodar por cinco capitais, incluindo Belo Horizonte. “Vamos incrementar
as fotos e os vídeos. E devemos ter de novo o casulo em que você ouve a
voz da Elis à capela. Mas tenho mais materiais visuais inéditos a
mostrar”, diz Bôscoli.
FOTO: EDITORIA DE ARTE / O TEMPO |
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