Com 1,5 bilhão de dólares à disposição e recebido como chefe de Estado em todo o mundo, Joseph Blatter, eleito aos 79 anos para um 5º mandato à frente da Fifa, incarna essa entidade, da qual faz parte há 40 anos, sobrevivendo a todo tipo de escândalo.
Quando o suíço entrou na Fifa em 1975 como diretor de programas de desenvolvimento, a Fifa contava apenas com uma dúzia de empregados e estava sediada num pequeno prédio em Zurique. Dizem as más línguas que ele chegou até a pedir dinheiro emprestado a um banco para pagar os salários dos funcionários. Hoje, as reservas da entidade que rege o futebol no mundo chegam a 1,5 bilhão de dólares.
Em 40 anos, o futebol passou de esporte semi-amador a negócio mundial, uma revolução que Blatter acompanhou de perto.
"A Fifa começou a crescer no momento em que o futebol se tornou mundial, universal", explicou nesta sexta-feira, antes da eleição. "João Havelange, meu antecessor, me disse: 'você criou um monstro'. É o casamento da televisão e do futebol que fez essa explosão econômica da Fifa".
Presidente da Fifa desde 1998, ele desafia o tempo, apesar dos 79 anos de idade.
"Eu me sinto em forma, idade para mim não é problema", garante o poliglota suíço, durante entrevista para alguns veículos de comunicação, um deles a AFP.
"Há quatro anos, me perguntaram se era meu último mandato. Naquele momento, tinha certeza que era, mas as coisas mudaram e eu mudei de ideia", completou.
"É preciso saber largar e não tentar se segurar ao trono custe o que custar", respondeu seu ex-aliado e hoje rival, o francês Michel Platini, presidente da Uefa, no início da semana, antes mesmo do escândalo judicial.
Para Platini, Blatter não larga a Fifa porque tem "medo do vazio": "Ele consagrou a vida à Fifa, a tal ponto que ele se identifica completamente com ela".
Como explicar tal longevidade? Será que existe um sistema Blatter? "Ele tem a capacidade de fazer as pessoas dependerem dele, mas não de uma maneira que elas lamentem isso. Essas pessoas sabem o que elas têm com Blatter e não sabem o que terão com outro", explicou uma fonte próxima à AFP.
Secretário-geral da Fifa entre 1981 e 1998, Blatter sucedeu na presidência o brasileiro João Havelange, 20 anos mais velho e até hoje um amigo próximo. "Até hoje, os dois homens conversam no telefone", confia uma pessoa próxima a Blatter. "É uma relação de pai e filho".
"Meu maior sucesso? Ter feito do futebol algo universal", se parabenizou Blatter, que sempre conta com o apoio incondicional da filha Corinne. O suíço gosta de afirmar que o futebol "nunca é atacado pelos beligerantes e é jogado no Iraque, no Afeganistão e até na Síria".
O desenvolvimento do futebol na Ásia deve muito a Blatter, responsável também pela primeira Copa do Mundo na África (do Sul, 2010). "Fiel e grato", segundo um membro de sua equipe, Blatter mantém o apoio necessário para sobreviver às críticas oriundas da Europa.
Generoso com as pequenas federações, que o mantiveram no poder todos esses anos, Blatter afirma que essa ajuda "é um princípio inspirado por Confúcio: não dê um peixe a seu irmão, ensine-o a pescar".
Nascido "um pouco prematuro, com sete meses", segundo confidentes, o nativo de Valais, nos Alpes suíços, é um ex-jogador amador e presidente de honra do clube Neuchâtel Xamax.
Na juventude, Blatter fez alguns trabalhos como jornalista para financiar os estudos de economia.
Antes da Fifa, ele trabalhou no marketing da empresa de relógios Swiss Time. Há 10 anos, em entrevista à AFP, Blatter afirmou: "Chega uma hora em que, se você não decidir por conta própria, alguem te mandará parar". Parece que essa hora ainda não chegou.
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