EMPREENDEDOR DE SUCESSO

terça-feira, 5 de maio de 2015

Peça é cancelada após acusações de racismo por personagem usar “blackface”

“A Mulher do Trem” seria encenada no Itaú Cultural, em São Paulo, mas foi cancelada após polêmica com ator pintado de negro. “A questão é que a máscara é uma tradição. Temos músicas que fazem referência à mulata, mulato… devemos esquecer disso?”, fala o produtor Eduardo Reyes

Uma sessão da peça “A Mulher do Trem”, do grupo Os Fofos que Encenam, que aconteceria no Itaú Cultural no dia 12 de maio, em São Paulo, foi cancelada após a página no Facebook do espaço receber mensagens os acusando de conteúdo racista na montagem. De acordo com os usuários, um dos atores faz “blackface” no espetáculo, ato de pintar o rosto para estereotipar ou satirizar os negros.
De acordo com o produtor Eduardo Reyes, atores se pintam de preto porque, no circo, recurso é chamado de
Divulgação
De acordo com o produtor Eduardo Reyes, atores se pintam de preto porque, no circo, recurso é chamado de "máscara do negro"
“Estamos solidários a todos que, de alguma forma, se sentiram ofendidos e nos desculpamos, porque definitivamente esta jamais foi a nossa intenção”, escreveu o perfil do Itaú Cultural em sua página no Facebook. “Nós recebemos todas as mensagens como um grande aprendizado”, completa o diretor do Itaú Cultural Eduardo Saron em entrevista ao iG, repetindo o post que a instituição publicou nas redes sociais.
Al Jolson no filme
Divulgação
Al Jolson no filme "O Cantor de Jazz" (1927), em que o protagonista se pinta de negro para fazer um show. O filme é considerado o primeiro com som da história
“A Mulher do Trem” é encenada desde 2003, quando estreou no Teatro Folha, também em São Paulo. Desde então, o personagem que criou polêmica sempre foi feito por Carlos Ataíde, que, apesar de ser afrodescendente, precisa se pintar de preto porque, na linguagem circense, há o conceito de “máscara do negro”, assim como há a máscara do galã e da donzela. 
A máscara do negro é um tipo social que nasceu na Commedia Dell’Arte, teatro popular criado em meados do século 15. Na mesma época, o blackface começou a ser adotado em peças como “Othello”, de Shakespeare, para retratar afrodescendentes em uma época que eles não podiam atuar no teatro. Porém, no fim do século 19, a maquiagem preta era usada para os brancos satirizarem os negros.
Eduardo Saron conta que as mensagens sobre “A Mulher do Trem” começaram a chegar no sábado (2). “Foi uma quantidade muito maior de posts do que costumamos receber em nosso projetos”, recorda.  
Segundo Eduardo Reyes, ator e produtor de “A Mulher do Trem”, este tipo de manifestação nunca havia acontecido nos 12 anos de história da montagem. “Acho que alguém viu uma foto de divulgação, em que o personagem estava ao fundo, e falou que estávamos usando black face e iniciaram as postagens de que a peça é racista”, comenta Reyes.
Imagens de divulgação da peça
Imagens de divulgação da peça
Imagens de divulgação da peça
Imagens de divulgação da peça
Imagens de divulgação da peça
Imagens de divulgação da peça "A Mulher do Trem". Foto: Divulgação
1/5
close
As mensagens os pegaram de surpresa. “A gente está aprendendo com isso também. Por isso decidimos, junto com o Itaú Cultural, a cancelar temporariamente o espetáculo, exatamente para conversar com estas pessoas sobre o porquê de elas se sentirem ofendidas”, fala.
Assim, no lugar da apresentação, o Itaú Cultural e o Os Fofos que Encenam farão um debate sobre black face no dia 12 de maio. “Esta tradução histórica ela tem em que peso neste debate das causas negras? Estas causas negras se sentem realmente ofendidas com esta tradição histórica? O fazer artístico pode evoluir através disso”, elucida Saron. “Decidimos não ir a um confronto direto, o espetáculo não serve para um discussão de oprimido/opressor, é uma comédia e ela serve para rir”, explica o produtor da trupe.
Rodrigo Sant'Anna como Adelaide na comédia
Divulgação
Rodrigo Sant'Anna como Adelaide na comédia "Zorra Total", da Rede Globo
Reyes diz, ainda, que o diálogo servirá como uma maneira da própria trupe entender como lidar com a militância negra e a máscara circense. “A conversa vai ter uma transformação. De repente se a máscara negra ofende tanto assim, talvez retiremos a máscara ou não faremos mais o espetáculo”, afirma o produtor e ator. “A questão é que a máscara é uma tradição. Temos outros personagens em que o ator precisa se pintar de preto. Temos músicas que fazem referência à mulata, mulato… devemos esquecer disso? Acho essa postura um pouco radical”.
Outros casos de black face
Publicidade
A trupe Os Fofos que Encenam não é a primeira a ser criticada pelo uso da maquiagem preta. O bloco Domésticas de Luxo criou polêmica no Carnaval ao convidar foliões a se vestirem como “negras malucas”. A própria fantasia, bastante comum no interior do país, também foi alvo de campanha de banimento por militâncias negras.
Nos Estados Unidos, onde os casos são mais explorados pela mídia, a atriz Julianne Hough foi criticada por ter escurecido a pele no Halloween para se fantasiar de Crazy Eyes, de “Orange is the New Black”. Também no showbiz, a personagem Adelaide, feita por Rodrigo Sant’anna no “Zorra Total”, foi acusada de mostrar a mulher negra como feia e com os dentes podres.
Siga as redes sociais do ON:
    Leia tudo sobre: teatro • polêmica • A Mulher do Trem

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário

    SEJA UM EMPREENDEDOR DIGITAL, NO CONFORTO DO SEU LAR, COM SEU ESCRITÓRIO VIRTUAL

    SEJA UM EMPREENDEDOR DIGITAL

      SEJA UM EMPREENDEDOR DIGITAL Tenha sua  Página Lucrativa  Online e Fature Dezenas ,  Centenas  ou  Milhares  de PAGAMENTOS  de  R$ 50,...