Pesquisa aponta que mais da metade dos infectados (54%) no mundo não conhece sua condição de portador do vírus
Em 'Looking', Patrick, interpretado por Jonathan Groff, sempre fica preocupado em ser infectado pelo vírus HIV, mesmo quando não se expõe a situações de risco. Foto: Divulgação
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No segundo episódio da nova temporada de 'Looking', seriado queridinho entres os gays, Patrick (interpretado por Jonathan Groff) percebe uma alergia em seu abdome e já se desespera com medo de ser HIV. Ele faz buscas na web, conversa com os amigos, até que finalmente vai fazer o teste – que dá negativo. Mas, afinal, quando é recomendável que a pessoa faça o exame? Fazer parte do chamado ‘grupo de risco’ é motivo para se preocupar constantemente com a doença?
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O índice de infecção na chamada população-chave é considerado alto. O número de novos casos vem aumentando. Precisamos investir mais em prevenção, cidadania e informação (Leandro Cesar da Silva, infectologista)
Segundo o médico Leandro Cesar da Silva, pesquisador da área de infectologia, o termo “grupo de risco” não é mais utilizado pelos especialistas, justamente pelo estigma que carrega e por não revelar a atitude pessoal frente ao HIV/AIDS. Existe, hoje, o termo “população-chave” – que engloba parcelas da população que apresentam maiores índices de novos casos, como idosos, profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens e usuários de drogas injetáveis. Por isso, o governo brasileiro lança campanhas e estratégias específicas de prevenção para essas pessoas.
Dados do Ministério da Saúde apontam que 10% dos brasileiros gays e homens que fazem sexo com homens têm HIV. Na população geral, esse percentual cai para 0,6%. “O índice de infecção na chamada população-chave é considerado alto. O número de novos casos vem aumentando. Precisamos investir mais em prevenção, cidadania e informação”, comenta o médico.
Ainda assim, 67,5% dos novos casos registrados são em heterossexuais. Mas, claro, é importante lembrar que a proporção de heterossexuais na população total é maior que a de homossexuais.
UMA ALERGIA É APENAS UMA ALERGIA
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O sexo com preservativo é sempre seguro, desde que usado corretamente, independente de o indivíduo pertencer à população-chave
No entanto, ser um homem gay não implica que você precisa ficar mais preocupado no momento de se relacionar com alguém do que uma pessoa heterossexual. “O sexo com preservativo é sempre seguro, desde que usado corretamente, independente de o indivíduo pertencer à população-chave”, conta Silva.
Isso significa que, se você não se expõe a nenhuma situação de risco, como praticar sexo sem camisinha ou compartilhar seringas e agulhas, não é necessário sentir medo de contrair o HIV/Aids e se desesperar, por exemplo, quando surge uma alergia na barriga, como aconteceu com Patrick.
“O teste deve ser realizado se o indivíduo se envolveu em alguma das práticas de risco, ou se o paciente tiver alguma dúvida quanto ao seu status sorológico. Na verdade, é um ato saudável se testar e se conhecer. Agora, caso não haja situação de risco, a testagem não é necessária. Uma boa consulta médica é interessante para falar sobre estas questões e dirimir dúvidas”, aconselha o especialista, lembrando que a janela imunológica, ou seja, o tempo entre a relação desprotegida até o exame ser válido, é de 30 dias.
Para realizar o teste anti-HIV, basta comparecer a um dos Serviços de Assistência Especializada e Centros de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA) mais próximo. Existe hoje o teste rápido (TR) para HIV, Hepatites e Sífilis, realizado gratuitamente nos SAE/CTA, sem necessidade de pedido médico, que fica pronto em 15 minutos. É possível também realizar os testes em laboratórios privados após o pedido do médico em consulta de rotina.
De acordo com dados da Unaids (United Nations & Aids) divulgados em julho do ano passado, 54% das pessoas infectadas no mundo todo não sabem que carregam o vírus. Isto significa que 19 milhões das 35 milhões de pessoas soropositivas existentes hoje não realizaram o teste para descobrir o seu status.
CAMISINHA E GEL LUBRIFICANTE
De acordo com Silva, a recomendação para se prevenir do contágio é sempre utilizar camisinha nas relações sexuais, independente da orientação sexual. A única coisa que acaba valendo especificamente para os gays, mas que serve para todos que praticam sexo anal, é utilizar uma boa quantidade de gel lubrificante à base de água no momento da relação. Isso porque a lubrificação natural da região do reto pode não ser suficiente e o atrito muitas vezes faz a camisinha estourar ou até mesmo sair do pênis. Caso isso aconteça e a pessoa tiver dúvidas sobre o status do parceiro, a melhor maneira de saber se houve o contágio é realmente fazendo o teste após 30 dias da relação.
“As chances de o resultado do teste estar errado são extremamente pequenas. Na verdade, na maioria das vezes ocorre o que chamamos de falso-negativo, quando o exame aponta negativo para o contágio em um indivíduo positivo. Isso acontece por causa da janela imunológica de 30 dias (tempo necessário para o vírus se manifestar e para que o teste seja válido)”, conta Silva.
Sobre os falsos-positivos – quando o teste aponta positivo para contágio em um paciente soronegativo - as chances são menores que 0,1%. Entretanto, no Brasil, todos os testes positivos são confirmados com novos testes, o que reduz essa chance praticamente a zero.
ARSENAL DE TRATAMENTO
Se o teste indicar que a pessoa contraiu o HIV/aids, o primeiro passo é confirmar este resultado. Se for confirmado, o especialista diz que o mais interessante para o paciente é iniciar o tratamento no Serviço de Atendimento Especializado (SAE), de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O tratamento inclui muitas ações: terapia psicológica, dieta adequada, apoio social, consultas e exames médicos e de enfermagem. As medicações fazem parte do arsenal de tratamento, e ajudam a combater o vírus e melhorar o sistema imunológico.
“É importante uma boa adesão ao tratamento para que ele funcione efetivamente”, comenta Silva. “A grande questão é continuar a viver, pois hoje, um diagnóstico positivo para HIV não representa um risco iminente, na verdade viver com HIV/aids é possível, com muita qualidade de vida.”
A evolução no tratamento do HIV/aids e o aumento da qualidade de vida dos soropositivos, no entanto, não é motivo para negligenciar o uso do preservativo durante as relações sexuais, inclusive no sexo oral. "Sexo seguro é parte de nossa saúde e realizar o teste é um ato de auto-conhecimento", completa o médico.
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