Presidente da CUT, maior central sindical do País, diz que o Dia do Trabalhador deste ano "é diferente por conta da conjuntura"; "O PL 4330 [da terceirização] faz o Brasil retroagir à década de 30. Esse Primeiro de Maio é muito mais nervoso do que o dos outros anos", afirma; líder sindicalista promete "parar o Brasil" caso o projeto passe no Senado como está e anuncia que o feriado será de manifestações contra a "sanha conservadora" que tem se levantado no Congresso sob a liderança do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ); ato da entidade terá a presença do ex-presidente Lula no centro da capital paulista
1 DE MAIO DE 2015 ÀS 06:12
Gisele Federicce, 247 – O Primeiro de Maio deste ano é "muito mais nervoso" se comparado aos anteriores, na avaliação do presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vagner Freitas. Em entrevista ao 247, ele explicou que o motivo é a "conjuntura". "O Projeto de Lei 4330 [que regulamenta a terceirização] faz o Brasil retroagir à década de 30", afirmou.
O presidente da CUT teve na última terça-feira 28, junto com outros líderes sindicais, uma reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para tratar do assunto. A avaliação do encontro foi positiva e a expectativa das centrais é de que o senador coloque o projeto em um debate mais profundo do que ocorreu na Câmara, onde, sob a liderança do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o texto foi aprovado com pressa e sob críticas de irregularidades na votação.
De acordo com Freitas, caso passe no Senado da forma como está, a CUT e outras centrais sindicais vão "parar o Brasil" com uma greve geral, pedindo o veto da presidente Dilma Rousseff. O formato atual da proposta permite às empresas terceirizarem atividade-fim, além da atividade-meio, como funciona atualmente. Como exemplificou o deputado Alessandro Molon (PT-RJ) ao 247 (leia aqui), aprovado o novo texto, os hospitais poderiam passar a terceirizar médicos, e as escolas, professores.
O presidente da CUT anuncia que haverá este ano um grande movimento contra a ameaça dos direitos trabalhistas e contra a "sanha conservadora" que tem se levantado no Congresso para afetar o trabalhador, liderada por Eduardo Cunha. Ao menos no evento da CUT, que acontece no Vale do Anhangabaú, no centro da capital paulista. A central é a maior do Brasil, representando 2,3 mil sindicatos. O ato terá a presença do ex-presidente Lula, que também falará contra a terceirização, e do presidente nacional do PT, Rui Falcão.
Segunda maior central do País, representante de 1,6 mil sindicatos, a Força Sindical, que faz oposição ao governo, manterá seu tradicional evento na praça Campo de Bagatelle, na zona norte, com shows e sorteios de automóveis. A entidade focará sua pauta em protesto contra as medidas provisórias 664 e 665, que modifica o acesso a benefícios como seguro-desemprego, abono salarial e pensões por morte. As medidas são sugestões da equipe econômica de Dilma e fazem parte do ajuste fiscal do governo. A terceira maior central, UGT, que entrou recentemente na luta contra o PL 4330, decidiu não realizar eventos neste Primeiro de Maio.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Qual sua avaliação sobre a reunião com o presidente do Senado, nessa semana, a respeito do PL 4330?
Foi positiva. O presidente avisou a opinião pública brasileira que no Senado o projeto vai entrar em processo de discussão diferente do que na Câmara. Ele disse que não há prazo para isso e, uma coisa que eu achei muito importante, disse que se nesse processo o Brasil optar pela terceirização como atividade-fim, estará optando pela precarização em relação à qualidade do trabalho.
Como o Senado deveria agir em relação ao texto, na avaliação da CUT?
Eu sugeri duas coisas separadas: uma é regularizar os trabalhadores terceirizados que estão precarizados. O que eu acho é que deveria se apresentar outro projeto para regularizar os 12,7 milhões de trabalhadores que estão na terceirização. Em relação aos outros 40 milhões de trabalhadores registrados sob o regime CLT, eliminar o "projeto do Cunha", que é como eu estou chamando, para acabar com a proposta de terceirizar as atividades-fim. Subtrair o parágrafo segundo, que fala dessa possibilidade.
O senador Renan Calheiros disse que não cabe às centrais dizer o que o Senado deve fazer. Qual seu comentário sobre essa declaração?
Eu acho que o Senado, como a Câmara, é a casa do povo. É a ressonância do que acontece na sociedade. Isso é normal da democracia. Os movimentos fazem suas reivindicações e o Senado tem que agir a partir de uma maioria. Não são as centrais que mandam, nem os empresários, mas o Senado é uma caixa de ressonância.
O que representa a adesão da UGT na luta contra o PL 4330?
Eu acho que todas as centrais têm que estar contra. A UGT tomou uma posição correta. Metade dos funcionários é contratada direta e metade é terceirizada, então ela teve uma dificuldade interna, mas foi correto.
Quais os planos para o 1º de Maio? Vai ter greve?
Vai ser o primeiro enfrentamento às manifestações de março e de abril, de descontentamento ao governo. A pauta é muito sobre o PL 4330 e mais as MPs 664 e 665, que também tratam de benefícios aos trabalhadores. Além disso, tem nossa pauta histórica, que inclui o fator previdenciário, e ainda a resistência à sanha conservadora contra os direitos dos trabalhadores no Congresso. Obviamente o movimento [do 1º de Maio] é um processo de condução para a greve. Se o PL 4330 passar no Senado permitindo a terceirização como atividade-fim, vamos parar o Brasil, até para pedir para que a Dilma vete.
Este 1º de Maio é diferente dos outros? Se sim, em que sentido?
Ele é diferente porque a conjuntura é diferente, o 4330 faz o Brasil retroagir à década de 30. Esse 1º de Maio é muito mais nervoso do que o dos outros anos por causa da conjuntura.
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