Postado em 30 abr 2015
Existem problemas reais, e existem falsos problemas.
Falso problema é, por exemplo, Dilma falar ou não por rede de tevê no Dia do Trabalho.
Em plena Era Digital, exigir que Dilma apareça na televisão é uma questão de obsolescência mental.
Vi, sem surpresa, a oposição tentando tirar bovinamente proveito da decisão presidencial de limar a tevê. Aécio pontificou.
Aécio não perde a oportunidade de falar quando poderia ficar quieto. (E, como no caso dos professores do Paraná, de silenciar quando deveria falar.) Renan também nos obsequiou com suas imprescindíveis considerações sobre o gesto de Dilma. Não lembro mais o que Renan disse, mas foi com certeza alguma coisa fascinante.
Essa é a vida.
Mas, com alguma surpresa, vi gente de esquerda também indignada com Dilma.
Aí não faz, simplesmente, nexo.
Tudo que Dilma possa fazer para dessacralizar a televisão entre os brasileiros é bem-vindo, dado o mal que Globo e demais emissoras representam para a sociedade.
Repito: tudo.
Há uma tradição inercial pró-televisão, e particularmente pró-Globo, que deve ser rompida.
Por que, por exemplo, o último debate para presidente é ainda na Globo?
Os opositores dizem que por trás da decisão de Dilma está um alegado receio de um panelaço.
Ainda que seja esta a motivação: evitar as panelas dos analfabetos políticos. Mesmo assim, o fato, em si, é positivo.
Estamos na Era Digital: é um recado inteligente, mesmo para os paneleiros que se movem sob a manipulação da imprensa e da própria ignorância.
Eu até admitiria pensar duas vezes sobre o tema se Dilma fosse uma mestra da tevê, como Lula, mas definitivamente não é o caso.
De resto, importante, mesmo, é o conteúdo da fala.
Há vários assuntos importantes para os trabalhadores, como a terceirização.
O pronunciamento de Dilma, seja em que plataforma for, é uma chance para ela deixar claro que é contra – visceralmente contra — a terceirização das atividades fim, como querem Eduardo Cunha e seguidores.
Num plano mais sonhador, me ocorre que Dilma poderia também endereçar sua solidariedade, ainda que atrasada, aos professores do Paraná, tratados selvagemente pelo governador Beto Richa.
Veremos o que Dilma dirá.
De toda forma, rejeitar a televisão foi um gesto histórico – um reconhecimento de que são outros os tempos, e uma bofetada bem dada na Rede Globo.
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