Rafael Silva se recupera da queda nas quartas para Teddy Riner e volta com tudo na repescagem para bater holandês e uzbeque e levar a quarta medalha do Brasil no Rio
"O Baby vai chegar. Ele sempre chega. O problema é pegar o Riner nas quartas. Se isso acontecer, ao menos ele vai atrás do bronze", diziam centenas de velhos e novos fãs do judô que já se sentiam órfãos, nesta sexta-feira à tarde, com o fim do último dia de disputa da modalidade no tatame da Arena Carioca 2. A previsão, baseada no histórico de medalhas do brasileiro nas principais competições, foi concretizada na tarde desta sexta-feira. Rafael Silva, o Baby, se reergueu horas após ser superado pelo astro francês Teddy Riner nas quartas de final, voltou com tudo para vencer na repescagem o holandês Roy Meyer. Pouco mais de 30 minutos depois, o peso-pesado conseguiu um yuko para derrotar, sem sustos, o uzbeque Abdullo Tangriev na disputa pelo bronze na categoria acima de 100kg. Como o mundo inteiro esperava, Riner conquistou com sobras o bicampeonato olímpico, ao bater na final o japonês Hisayoshi Harasawa. O israelense Or Sasson, vítima de Teddy na semi, dividiu o terceiro lugar do pódio com Rafael.
Rafael Silva comemora vitória na disputa pelo bronze (Foto: Murad Sezer/REUTERS)
É o segundo bronze seguido conquistado pelo sul-mato-grossense de 29 anos em Jogos Olímpicos. Ele também foi ao mesmo lugar do pódio em Londres 2012. Após um começo tardio na arte marcial, aos 15, Rafael, que ganhou o apelido de Baby porque era muito bonzinho e ficava calado no seu canto na academia de judô, se dá ao luxo de possuir além de dois bronzes olímpicos, duas medalhas em Mundial (prata e bronze).
Rafael Silva com o bronze (Foto: Agência Reuters)
- Estou muito feliz! Foi muita luta depois da minha lesão. Quero agradecer a todos que me ajudaram. Em casa é bom demais. A torcida pressionou o adversário, me ajudou a todo momento. Muito diferente ganhar essa medalha com a torcida. Eles me empurraram. Riner é um ícone do esporte. Privilégio lutar com ele, espero encontrá-lo em Tóquio 2020 - comemorou Baby, lembrando da lesão no músculo do tórax que o afastou do tatame por seis meses, entre julho do ano passado e janeiro deste ano.
A medalha do peso-pesado é a quarta do Time Brasil na Olimpíada do Rio e a terceira no judô, após o ouro de Rafaela Silva. e o bronze de Maria Aguiar. A primeira, de prata, veio no tiro esportivo, com Felipe Wu, na pistola de 10m. A láurea de Baby é a 22ª do judô nacional em Jogos Olímpicos, aumentando a vantagem da arte marcial de origem japonesa na disputa com a vela, que tem 17.
O grandalhão brasileiro de 2,03m e 170kg estreou na Rio 2016 com uma vitória extremamente fácil, por ippon, sobre o hondurenho Ramon Pileta. Também com um golpe perfeito, o mais pesado atleta da delegação brasileira nos Jogos despachou o perigoso russo Renat Saidov nas oitavas de final. Porém, o terceiro duelo dele na manhã desta sexta-feira foi o aguardado duelo contra o mito do judô mundial Teddy Riner, dono de oito títulos mundiais e atual campeão olímpico. O francês, que entrou no tatame da Arena Carioca 2 com uma invencibilidade de 109 lutas sentiu a força da pegada de Baby e o grande apoio da torcida, mas, com um wazari, acabou levando a melhor pela oitava vez em oito confrontos. A derrota mandou Rafael para a repescagem. Ele precisaria vencer duas lutas para ir ao terceiro lugar do pódio. Na primeira, o simpático atleta atuou muito bem taticamente e forçou duas punições do holandês Roy Meyer para sair vitorioso. Depois veio o triunfo sobre Tangriev, do Uzbequistão.
Pódio da categoria acima de 100kg no judô (Foto: Murad Sezer/REUTERS)
Representante do Brasil no peso-pesado feminino (acima de 78kg), Maria Suelen Altheman estreou já nas oitavas de final, mas perdeu por yuko para a sul-coreana Minjeong Kim, atual campeã asiática. A paulista era uma das principais esperanças de pódio, pois tem no currículo dois vice-campeonatos mundiais (2013 e 2014) e já venceu as suas principais rivais.
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Vinha do judô uma grande expectativa de medalhas do Time Brasil. O plano era obter ao menos cinco pódios. Foram apenas três. Nos seis primeiros dias do esporte na Rio 2016, a seleção brasileira havia conquistado o ouro com Rafaela Silva e o bronze de Mayra Aguiar, mas se frustrou com Sarah Menezes (até 48kg), Érika Miranda (até 52kg), Victor Penalber (até 81kg), Tiago Camilo (até 90kg) e agora com Maria Suelen Altheman. Mariana Silva surpreendeu no até 63kg e acabou em quinto.
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VITÓRIA FACÍLIMA NA ESTREIA
Rafael Silva tinha uma estreia bastante tranquila. O rival era o hondurenho Ramon Pileta, o mais velho judoca da Rio 2016. Com 39 anos e sem grandes resultados na carreira, ele não seria páreo para o laureado peso-pesado brasileiro.
Até para ganhar ritmo de competição, Baby começou travando a pegada do oponente e se movimentando. Com facilidade, ele encaixou um golpe de perna e conseguiu um wazari. Rafael caiu montado em cima de Pileta e iniciou uma imobilização, mas só segurou por cinco segundos.
Rafael Silva derruba o hondurenho Ramon Pileta (Foto: Marcio Rodrigues/MPIX/CBJ)
Sem sofrer qualquer risco, o medalhista olímpico continuou se movimentando e trocando pegada com o hondurenho. Ele sabia que a qualquer momento poderia encaixar um ippon e encerrar o combate. Foi o que aconteceu. Quando faltava 1min38s, Rafael deu um osotogari, o golpe de perna mais simples do judô, e Ramon caiu com as costas chapadas no solo: ippon, e vaga nas oitavas de final.
IPPON NAS OITAVAS
O duelo de oitavas era complicado para Rafael. O russo Renat Saidov é muito perigoso. Bronze no Mundial de 2014, quando dividiu o terceiro lugar do pódio com o brasileiro, o europeu é um atleta alto e mais ágil, por ser um dos mais leves da categoria.
Com dificuldade para fazer a pegada, Baby acabou sendo punido com pouco mais de um minuto de luta. Ele precisaria buscar entradas de golpes ou a vida ficaria muito mais dura. Outra alternativa era também forças uma penalização do oponente.
Rafael Silva vibra com vitória sobre Saidov
(Foto: Marcio Rodrigues/MPIX/CBJ)
(Foto: Marcio Rodrigues/MPIX/CBJ)
Esperto, o brasileiro travou a pegada do rival e o obrigou a cortar de formar irregular, recebendo um shidô. A luta estava empatada, com 2m40s para o fim do tempo regulamentar. Mais agressivo, Rafael passava a dominar as ações. Prova disso é que Saidov acabou recebendo o segundo shidô. Baby passou a ter vantagem.
Quem esperava que o atleta nascido em Campo Grande (MS) fosse cozinhar a luta até o fim para vencer por ter menos punições, viu um novo Rafael Silva. Ele partiu para cima de Renat e encaixou o seu forte osotogari. Com o golpe de perna perfeito, Baby venceu por ippon. Vaga nas quartas de final. O duelo com Teddy Riner estava marcado.
O DUELO COM RINER
Para encarar Teddy Riner, Rafael Silva tinha como tática tentar se dar bem na troca de pegada e forçar punições do astro do judô. Partir para o combate franco seria muito arriscado. O francês demonstrou que respeitava o brasileiro e adotou uma postura até mais defensiva.
Passaram os dois primeiros minutos e nada de entrada de golpe ou punição. A luta estava tensa. A qualquer momento, um dos dois poderia ser punido. Para azar do brasileiro, foi o ele, com 2m35s para o fim.
Mesmo atrás, Baby continuou tentando cortar a pegada de Riner e demonstrar que ele queria mais a luta. Só que não é nada fácil se dar bem contra a lenda. Rafael deu uma brecha defensiva e acabou sendo projetado para o solo: wazari para Teddy.
Teddy Riner gira Rafael por cima do seu corpo no golpe que gerou o seu wazari (Foto: Reuters/Toro Hanai )
Faltava 1m30s. Era tudo ou nada para Rafael. A tática de vencer por ter menos punições já não era mais possível. Tranquilo com a bela vantagem, Riner não se importava em ficar trocando pegada e deixou o cronômetro correr. Mais uma vitória da fera! Baby vai buscar o bronze.
BOA TÁTICA NA REPESCAGEM
Assim como nas lutas anteriores, Rafael Silva começou demonstrando a força da sua pegada. Freguês de brasileiros, o holandês Meyer sentiu logo de cara a dificuldade que ele teria pra encaixar golpes. Durante dois minutos, os dois não tentaram nada, mas a arbitragem evitou dar punições para tentar fazer a luta correr.
De tanto insistir na pegada nas duas golas, Rafael acabou conseguindo fazer com que o oponente fosse punido por falta de combatividade, já que o brasileiro ao menos tentava aplicar técnicas de perna.
Com maior envergadura e força, Baby tinha a luta controlada. A vantagem mínima do brasileiro persistia no placar. Quando a lua ia entrar no minuto final, os dois foram punidos. Restavam 40 segundos, quando Meyer tentou derrubar Rafael. Ele caiu de bruços. Nada que assustasse. A torcida contou junto os dez segundos finais. Hora de comemorar: ia ter brasileiro na disputa do bronze pelo segundo dia seguido.
Rafael Silva tenta encaixar golpe no holandês Roy Meyer, na repescagem (Foto: Marcio Rodrigues/MPIX/CBJ)
TRIUNFO DE BRONZE
Bem mais alto do que Tangriev, Baby tratou de usar o seu maior tamanho para dominar a pegada desde os primeiros instantes da disputa do bronze. Como sabia da grande técnica do uzbeque, Rafael não deu espaço para o oponente tentar encaixar os seus golpes de perna.
O gringo não escondia o cansaço. Aos 35 anos, ele chegou na raça e na técnica longe na chave da Rio 2016. Baby queria tentar aumentar a fadiga do rival. Mas esqueceu de tentar entrar golpes, e os dois acabaram sendo punidos por falta de combatividade.
Quando restavam 2m50, Rafael viu o uzbeque ser penalizado por cortar a pegada de forma irregular. O brasileiro estava na frente, com um shidô contra dois de Tangriev. Bastava não ser derrubado para Rafael colocar a segunda medalha olímpica no peito.
A luta foi para o minuto final com Baby vencendo com muita propriedade. Apenas uma improvável entrada de golpe do cansado Tangriev mudaria a situação. Rafael decidiu tentar encerrar logo a disputa e derrubou o rival: yuko. A ida ao pódio estava encaminhada. É bronze!
Rafael Silva encaixa pegada contra Abdullo Tangriev, na disputa pelo bronze (Foto: Reuters)
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