Ela dividiu cela com Ana Carolina Jatobá e emprestou livros à Richthofen. Vanessa tentou suicídio e acha que desfecho do caso teve influência do ex.
A modelo Vanessa Alcântara, presa por suposta agressão a uma escrivã da Delegacia da Mulher de Valinhos (SP), teve a liberdade concedida na segunda-feira (8) após quatro meses de prisão em regime fechado.
Em 7 de abril, a modelo foi até a unidade policial registrar um boletim de ocorrência por conta de uma briga com vizinhos, mas ficou contrariada ao saber que havia um inquérito policial em andamento contra ela por conta de uma suposta agressão.
Na época, a Polícia Civil disse que a modelo teria se descontrolado, arrancado e rasgado os papeis das mãos da escrivã da delegacia e em seguida, teria ofendido a policial e causado ferimentos em um de seus braços.
Além disso, a corporação afirmou que a delegada titular teve que interferir e pedir ajuda a três soldados da Guarda Municipal, que foram atingidos por um capacete jogado por Vanessa.
Ela foi autuada pelos crimes de agressão, desacato, resistência, injúria, calúnia, supressão de documentos, lesão corporal e porte de entorpecentes, uma vez que foi encontrada maconha em sua bolsa.
A modelo foi condenada a quatro anos de prisão em regime semiaberto, teve seupedido de liberdade negado duas vezes e passou por quatro penitenciárias do interior paulista.
Vanessa ganhou destaque ao desfilar neste ano no carnaval de São Paulo pela escola Acadêmicos do Tucuruvi e em denunciar o ex-namorado, o auditor fiscal Luís Alexandre Magalhães.
Ele é suspeito em participar de um esquema de corrupção avaliado em um prejuízo de 500 milhões aos cofres públicos da administração paulista.
Conversa
Em entrevista ao G1, a modelo contou como foi o tempo que passou por quatro centros de detenção, incluindo a famosa penitenciária de Tremembé, no interior paulista. Lá ela dividiu cela com Ana Carolina Jatobá, emprestou livros para Suzane von Richthofen e tentou o suicídio. Na penitenciária de Mogi Guaçu, foi assediada, sofreu ameaças e ficou em isolamento.
G1 - Quando foi que você saiu e como foi ao receber a notícia da liberdade?
Vanessa: Saí na segunda-feira, e eu já estava perdendo as esperanças. Quando recebi a notícia fiquei em choque, achei que o advogado estivesse brincando. Quando me dei conta, estava assinando os papéis para sair. Foi tudo muito difícil, se fosse para ficar até final do ano, acho que eu não suportaria.
Em entrevista ao G1, a modelo contou como foi o tempo que passou por quatro centros de detenção, incluindo a famosa penitenciária de Tremembé, no interior paulista. Lá ela dividiu cela com Ana Carolina Jatobá, emprestou livros para Suzane von Richthofen e tentou o suicídio. Na penitenciária de Mogi Guaçu, foi assediada, sofreu ameaças e ficou em isolamento.
G1 - Quando foi que você saiu e como foi ao receber a notícia da liberdade?
Vanessa: Saí na segunda-feira, e eu já estava perdendo as esperanças. Quando recebi a notícia fiquei em choque, achei que o advogado estivesse brincando. Quando me dei conta, estava assinando os papéis para sair. Foi tudo muito difícil, se fosse para ficar até final do ano, acho que eu não suportaria.
Quem te buscou?
Meu advogado e o Edu, meu assessor.
E seus pais, familiares?
Meu pai estava trabalhando.
Como se sentiu ao deixar a penitenciária?
Era muita informação. Só queria algo gelado para tomar, porque lá dentro não podia. Eu chorei por ver os carros, a rua, na minha cabeça eu não sabia o que iria acontecer.
Nestes quatro meses longe de casa, família, profissão, o que aconteceu?
Foram quatro meses com quatro transferências. [Vanessa foi detida em Valinhos, seguiu para Paulínia, posteriormente para a penitenciária feminina de Campinas, em seguida para o presídio de Tremembé e por último, para a penitenciária de Mogi Guaçu]. Passei por uma comarca e penitenciárias. Na comarca, a cela era até confortável na ‘medida do possível’. Eu estava chocada, mas acreditava que sairia dali em breve. Mas não foi o que aconteceu. Fiquei ali por sete dias e quando vi que não iria sair, me transferiram para o primeiro presídio. Fui para uma cela isolada, depois comecei a tomar 'os banhos de sol' em pequeno pátio com outras meninas; aí começaram os assédios contra mim. Foi nessa hora que a minha ficha caiu e vi que estava realmente em uma cadeia. Acho que passaram uns 15 dias e fui para a penitenciária de Tremembé.
Meu advogado e o Edu, meu assessor.
E seus pais, familiares?
Meu pai estava trabalhando.
Como se sentiu ao deixar a penitenciária?
Era muita informação. Só queria algo gelado para tomar, porque lá dentro não podia. Eu chorei por ver os carros, a rua, na minha cabeça eu não sabia o que iria acontecer.
Nestes quatro meses longe de casa, família, profissão, o que aconteceu?
Foram quatro meses com quatro transferências. [Vanessa foi detida em Valinhos, seguiu para Paulínia, posteriormente para a penitenciária feminina de Campinas, em seguida para o presídio de Tremembé e por último, para a penitenciária de Mogi Guaçu]. Passei por uma comarca e penitenciárias. Na comarca, a cela era até confortável na ‘medida do possível’. Eu estava chocada, mas acreditava que sairia dali em breve. Mas não foi o que aconteceu. Fiquei ali por sete dias e quando vi que não iria sair, me transferiram para o primeiro presídio. Fui para uma cela isolada, depois comecei a tomar 'os banhos de sol' em pequeno pátio com outras meninas; aí começaram os assédios contra mim. Foi nessa hora que a minha ficha caiu e vi que estava realmente em uma cadeia. Acho que passaram uns 15 dias e fui para a penitenciária de Tremembé.
Em minha mente, vinham os crimes bárbaros de Ana Carolina Jatobá, Suzane von Richthofen, e me perguntava o que eu fiz para estar neste meio. Cheguei a perguntar para os agentes, e me diziam apenas: “Você deve saber o porquê de estar aqui”. A cela em que fiquei era um antigo hospital para tuberculosos e tinha vista para um matagal. Deve ter uns cem anos de tão antigo. Animais peçonhentos entravam na cela, de todo tipo. Aranhas, baratas, ratos. Foi aí que tentei o suicídio.
Como foi?
Peguei um lençol e enrolei todo ele e depois tentei me enforcar. Eu apaguei e quando acordei, tinha muita gente em cima de mim. Fui para a enfermaria, depois me transferiram para uma cela com 16 pessoas. Após este episódio, fui dividir cela com a Ana Carolina Jatobá. Fiquei pouco tempo ali. A Suzane (Richthofen) tinha acabado de chegar do semiaberto e estava em isolamento.
Peguei um lençol e enrolei todo ele e depois tentei me enforcar. Eu apaguei e quando acordei, tinha muita gente em cima de mim. Fui para a enfermaria, depois me transferiram para uma cela com 16 pessoas. Após este episódio, fui dividir cela com a Ana Carolina Jatobá. Fiquei pouco tempo ali. A Suzane (Richthofen) tinha acabado de chegar do semiaberto e estava em isolamento.
Você emprestou livro para Suzane e por quê?
Foi ‘O Monge e o Executivo’ e ‘Aleph’, de Paulo Coelho. Como fiquei em isolamento, sei como era difícil passar por isso. Então, emprestei a ela para que tivesse com o que passar o tempo.
Como foi em Mogi Guaçu, a última penitenciária que passou?
Foi lá que o meu mundo caiu. É uma penitenciária de segurança máxima, diferente de Tremembé com seus benefícios. De Tremembé, pedi transferência para Santana, mas não deram e me enviaram até Mogi. É um lugar rígido, com muitas regras, superlotado, pobre, sem assistência, com pessoas sem o apoio da família, que tem que se virar com um sabonete e quatro rolos de papel higiênico por mês. Fiquei sem lençol, com uma espuma pra deitar e uma manta fina. O arroz vem até com casca e pedrinhas. Mas se for para falar de qual é pior... Mogi foi a mais impactante, e Tremembé a que mexeu mais no meu psicológico, mesmo com os confortos como água quente e comida boa (nas outras detenções o banho era frio e a alimentação questionável). Os crimes de lá são bárbaros, de pedofilia até babá que matou criança. Fiquei muito mal.
Foi ‘O Monge e o Executivo’ e ‘Aleph’, de Paulo Coelho. Como fiquei em isolamento, sei como era difícil passar por isso. Então, emprestei a ela para que tivesse com o que passar o tempo.
Como foi em Mogi Guaçu, a última penitenciária que passou?
Foi lá que o meu mundo caiu. É uma penitenciária de segurança máxima, diferente de Tremembé com seus benefícios. De Tremembé, pedi transferência para Santana, mas não deram e me enviaram até Mogi. É um lugar rígido, com muitas regras, superlotado, pobre, sem assistência, com pessoas sem o apoio da família, que tem que se virar com um sabonete e quatro rolos de papel higiênico por mês. Fiquei sem lençol, com uma espuma pra deitar e uma manta fina. O arroz vem até com casca e pedrinhas. Mas se for para falar de qual é pior... Mogi foi a mais impactante, e Tremembé a que mexeu mais no meu psicológico, mesmo com os confortos como água quente e comida boa (nas outras detenções o banho era frio e a alimentação questionável). Os crimes de lá são bárbaros, de pedofilia até babá que matou criança. Fiquei muito mal.
O que te marcou mais?
Tudo. Receber a primeira visita do meu pai, sentir o cheiro dele, foi muito marcante. Lembro que uma das cenas mais fortes foi quando eu estava com tanto frio que uma mulher humilde, que estava na minha mesma cela, tirou sua única meia furada para me emprestar [nesse momento, ela silencia e chora]. Aquilo acabou comigo tamanha humanidade dela e impotência minha. Tive muitos momentos de medo, por exemplo, quando uma detenta queria retalhar meu rosto com uma gilete, sei lá por qual razão. Então, ou eu não conseguia dormir pela insegurança, ou estava surtando pelas vezes que fiquei em isolamento.
Tudo. Receber a primeira visita do meu pai, sentir o cheiro dele, foi muito marcante. Lembro que uma das cenas mais fortes foi quando eu estava com tanto frio que uma mulher humilde, que estava na minha mesma cela, tirou sua única meia furada para me emprestar [nesse momento, ela silencia e chora]. Aquilo acabou comigo tamanha humanidade dela e impotência minha. Tive muitos momentos de medo, por exemplo, quando uma detenta queria retalhar meu rosto com uma gilete, sei lá por qual razão. Então, ou eu não conseguia dormir pela insegurança, ou estava surtando pelas vezes que fiquei em isolamento.
Excessos
Vanessa acredita que houve excessos e abuso de poder por parte da polícia de Valinhos, quando foi detida em abril deste ano. Segundo ela, não teve agressão física contra a escrivã, mas ao se exaltar e chamar todos de ‘corruptos' , escreveu sua sentença.
Vanessa acredita que houve excessos e abuso de poder por parte da polícia de Valinhos, quando foi detida em abril deste ano. Segundo ela, não teve agressão física contra a escrivã, mas ao se exaltar e chamar todos de ‘corruptos' , escreveu sua sentença.
Questionada, a modelo não fala em planos futuros, mas diz querer retomar a vida e os trabalhos. Em 22 de setembro está agendada uma audiência sobre o caso em que Vanessa delatou seu ex-namorado e pai de seu filho, o auditor fiscal Luís Alexandre Magalhães, cuja guarda está sob tutela.
Ela diz que tem uma testemunha, mas que depois de tudo o que passou, não sabe o que fazer e se sente “acuada”. A modelo acha que o desdobramento da sua prisão teve influência do ex como vingança da delação sobre esquema de fraude no Imposto Sobre Serviços (ISS). À época, a modelo afirma ter recebido propina de Luís Alexandre.
Visita da família
Na quarta-feira (10), ela foi pela primeira vez, desde que conseguiu a liberdade, a um parque. Ela relata o prazer de poder retomar pequenas experiências do cotidiano, como comer com talheres. Ainda fragilizada, tem receio de voltar ao regime fechado e sua maior preocupação é “se proteger”.
Na quarta-feira (10), ela foi pela primeira vez, desde que conseguiu a liberdade, a um parque. Ela relata o prazer de poder retomar pequenas experiências do cotidiano, como comer com talheres. Ainda fragilizada, tem receio de voltar ao regime fechado e sua maior preocupação é “se proteger”.
Questionada sobre a participação da família em todo o processo, Vanessa declara que a mãe não a visitou em nenhum dos centros de detenção e diz ter oferecido ajuda - caso necessário - através de uma assistente social.
O pai a visitou apenas na última penitenciária, de Mogi Guaçu, já que “a burocracia é grande para o acesso à visita”. Ela tem uma irmã de 18 anos que estuda veterinária e dois filhos, um de sete anos e outro de três, frutos de dois relacionamentos, que moram com os pais.
O pai a visitou apenas na última penitenciária, de Mogi Guaçu, já que “a burocracia é grande para o acesso à visita”. Ela tem uma irmã de 18 anos que estuda veterinária e dois filhos, um de sete anos e outro de três, frutos de dois relacionamentos, que moram com os pais.
“Eu ainda estou sem chão. Mas me sinto uma pessoa transformada e com a fé aumentada. Saí quando achei que tudo estivesse perdido, sem saber quantos processos mais eles iriam colocar em cima de mim [...] O bem vence o mal e estou esperançosa de que tudo vai dar certo. Tirei muitas lições”, finaliza.
A Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) foi procurada para comentar as declarações da modelo, mas até a publicação da reportagem, não enviou resposta.
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