“Então, vamos às apostas e que acompanhemos a cerimônia do Oscar, torcendo pelos nossos favoritos e nos preparando para as surpresas que, comumente, acontecem na cerimônia”.
Por Mauricio Amorim
É inegável que, a cada ano que passa, os selecionados para concorrer ao Oscar de Melhor Filme do ano são, na sua grande maioria, produções no mínimo ótimas, algumas produções beirando, inclusive, a excelência. Se tal tendência já era visível nos anos anteriores, no ano passado, então, ficou evidente. Neste ano, talvez com a exceção de Whiplash – que não é um filme ruim, mas ocupou a vaga de outros títulos que deveriam estar no páreo – todos os títulos possuem razões de sobra para justificar a indicação a Melhor Filme.
Entretanto, sou da opinião de que deveriam estar nesta categoria os excelentes Garota Exemplar eO Abutre.
O primeiro, recebeu a mais do que justa indicação de Melhor Atriz para Rosamund Pike que, apesar de ótima e assustadora neste filme, não vai ganhar, pois até as pedras já sabem que o Oscar de Melhor Atriz, deste ano, será dado para Julianne Moore, que dá vida a uma mulher com Alzheimer no emocionante Still Alice (Para Sempre Alice). E se assim o for, será um prêmio justíssimo. Confesso, contudo, que gostaria de ver Julianne concorrendo por Maps To The Stars, no qual ela vive uma atriz decadente, maravilhosamente bagaceira e disposta a tudo, absolutamente tudo, para conseguir um papel num remake que está prestes a ser produzido. Por este filme, Julianne ganhou o prêmio de Melhor Atriz no último Festival de Cannes. Mapa Para as Estrelas foi dirigido por David Cronenberg e, injustamente, não recebeu uma única indicação ao Oscar. Porém, Still Alice, acertadamente, dará esse já tardio Oscar a sempre maravilhosa Julianne Moore.
Já o segundo – O Abutre – não recebeu a tão esperada indicação de Melhor Ator para Jake Gyllenhaal. Jake foi indicado a absolutamente todos os principais prêmios de cinema, deste ano, era um forte candidato ao Globo de Ouro, mas, para o Oscar, não foi indicado! Parece que, no seu lugar, ficou Bradley Cooper, pelo filme do Clint Eastwood – Sniper Americano. Aliás, nesta categoria, tudo leva a crer que o jovem inglês Eddie Redmayne levará a estatueta para sua casa, pois já ganhou o Globo de Ouro e o Sag Awards. Reconheço que esse rapaz não só é um ótimo ator – basta lembrarmos-nos dele em Os Miseráveis e em Sete Dias com Marilyn -, como é a alma de A Teoria de Tudo, filme pelo qual ele concorre, neste ano, a melhor ator. Mas, sinceramente, o Oscar de Melhor Ator deveria ir voando – já que Jake Gyllenhaal não está indicado – para as mãos de Michael Keaton, pela sua atuação no excelente Birdman. Michael já ganhou, por esse filme, o Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia ou Musical, e seria um merecido prêmio se ele levasse, dia 22 de fevereiro, o Oscar de Melhor Ator. É, sem sombra de dúvida, o meu favorito nesta categoria.
Quanto aos coadjuvantes, vale a pena ressaltar a inesperada (pelo menos, para mim) atuação de Emma Stone em Birdman. Ela está ótima como a filha do personagem do Michael Keaton! Emma é mais lembrada pelos novos filmes do Homem Aranha e, evidentemente, pela “médium” de Magia ao Luar, de Woody Allen. Passei a olhá-la com mais atenção neste injustiçado filme do Allen. Porém, em Birdman, não conseguimos retirar os olhos dela: ela está perfeita em absolutamente todas as cenas em que aparece! Naquela cena do embate com o pai, então… Que olhar! Entretanto, nesta categoria – Melhor Atriz Coadjuvante – o Oscar deve ir para Patricia Arquette. Ela faz a mãe emBoyhood. Patricia já é atriz desde os já longínquos anos 80 e, na grande maioria das vezes, seus filmes não alcançaram grandes projeções não, mesmo sendo filmes, muitas vezes, bons ou, até mesmo, ótimos. Ela teve um destaque grande na série Medium mas, com Boyhood, tem-se a sua grande chance de premiação como atriz, basta levar em conta que ela já ganhou, nesta categoria, todos os prêmio pré Oscar. Vai ser uma vitória merecida: é a minha favorita. A segunda, Emma Stone. Contudo, lamento – e lamento profundamente – o fato de Rene Russo não ter sido indicada, nem ao Globo de Ouro, muito menos ao Oscar, pelo já citado O Abutre. Se assim o fosse, seria, acertadamente, a minha favorita a melhor atriz coadjuvante.
J.K. Simmons, com sua atuação em Whiplash, desbancou o inicial favorito Robert Duvall, de O Juiz, e deve levar a estatueta dourada de Melhor Ator Coadjuvante. Gostei demais das atuações de todos os outros coadjuvantes, acho, inclusive, muito justo todos estarem concorrendo, mas, com certeza, não há como não premiar Simmons, que vive um terrível professor de música – que utiliza métodos de ensino, no mínimo, cruéis – nesta obra que, além de Ator Coadjuvante, ainda recebeu cinco indicações ao Oscar, entre elas, a já citada – e repito: não aceita por mim – Melhor Filme. Creio que só deva levar mesmo Ator Coadjuvante. Talvez ganhe na categoria relacionada ao Som.
Entre os diretores, tem-se aí uma das mais inesperadas disputas deste Oscar pois, numa mesma categoria, há Wes Anderson, pelo maravilhoso processo de direção em O Grande Hotel Budapeste e Richard Linklater, por Boyhood. Além deles, há o meu favorito, nesta categoria: Alejandro González Iñárritu, por Birdman. E completando a lista, Bennett Miller, por Foxcatcher e Morten Tyldum, porO Jogo da Imitação. Todos impecáveis, no conduzir de suas obras, mas o destaque maior, de fato, fica para Linklater e para Alejandro Iñárritu.
O primeiro fez algo, até onde eu saiba, inédito na história do cinema: gravou um filme durante doze anos. Em cada ano, durante esses doze anos, ele usava uma semana do ano e filmava, registrando, assim, o crescimento de todos os atores, dos menores aos já adultos. A ideia, por si só, já é ótima. Contudo, através de um roteiro muito bem escrito (também dele), ele fez um filme que podemos chamar de um grande filme, daqueles que merecem ganhar vários e vários prêmios e, todos, terão sido merecidos. Boyhood tem um roteiro impecável, atuações muito boas e uma direção segura.
Entretanto, no ano de Boyhood, tem-se, também, o ano de Birdman (ou a Inesperada Virtude da Ignorância). E, por mais que reconheça todas as excelentes adjetivações de Boyhood, estarei, no dia 22 de fevereiro, torcendo fervorosamente por Birdman, pois, de todos os indicados ao Oscar desse ano, esse filme do Iñárritu consegue, em duas horas de narrativa, presentear o seu espectador com as mais variadas excelentes qualidades que, comumente, queremos encontrar num filme. Como, por exemplo, uma muito bem vinda metalinguagem (utilizando essa figura de linguagem sem ser chato ou didático) ou, ainda, as já citadas atuações (todos, de Emma Stone a Edward Norton, de Keaton e Naomi Waats, estão perfeitas) e, evidentemente, uma segurança na direção raras vezes vistas, atualmente, num filme: Iñárritu utiliza um estilo de direção que agrada, por demais, aos nossos olhos, ao ponto de não querermos que o filme termine, não pelo fato de a história estar interessante (sim, por isso também), mas, principalmente, para continuarmos admirando como a câmera de Iñárritu está sendo conduzida, direcionada neste filme.
Birdman não é só meu favorito a Melhor Filme como também a Melhor Diretor. Contudo, levando em conta as premiações prévias do Oscar, Linklater deve ganhar Melhor Diretor, por Boyhood. E deve ganhar também Roteiro Original já que, como já citado por mim, o roteiro de Boyhood é muitíssimo bem escrito.
Já na categoria Roteiro Adaptado, a principal disputa, acredito, ficará entre A Teoria de Tudo e O Jogo da Imitação. Particularmente, prefiro que O Jogo da Imitação seja o grande vencedor. Além de o filme ser ótimo, e ter uma atuação forte e, ao mesmo tempo, sensível, de Benedict Cumberbatch, o seu roteiro consegue, de maneira simples, altamente eficaz, transitar entre o tempo atual da história e os anos iniciais do protagonista, como estudante de futuro promissor na matemática, ao mesmo tempo em que percebia a sua homossexualidade sendo despertada, ao se ver apaixonado pelo colega Christopher. Aliás, uma das melhores cenas de O Jogo da Imitação é exatamente a última cena do protagonista jovem, na sala do diretor da escola, recebendo uma trágica noticia. Só por essa cena e, obviamente, pelos diálogos e intenções contidos, nela, já seria merecido o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado para O Jogo da Imitação.
O Grande Hotel Budapeste, que é um excelente filme dirigido pelo não menos excelente Wes Anderson, não deve ganhar as categorias mais badaladas, como filme, diretor ou roteiro, mas, acertadamente, sairá da noite do Oscar com, pelo menos, três estatuetas – Figurino, Maquiagem e, evidentemente, Direção de Arte -, todas devidamente merecidas. O Grande Hotel Budapeste é um dos melhores trabalhos de Wes Anderson!
Creio que Como Treinar Seu Dragão 2 seja o grande vencedor na categoria Animação. Até porque, além das suas qualidades técnicas, tem-se, nesta obra, uma história convincente, muito bem escrita, que agrada adultos e crianças. Tendo algo, raro, a seu favor: é ainda melhor do que a primeira parte!
O Brasil, mais uma vez, não conseguiu nenhuma indicação. Sim, tem-se O Sal da Terra, que tem, entre os diretores, o brasileiro Juliano Ribeiro Salgado. Bem… Juliano nasceu na França, foi criado também por lá, e basicamente, toda a sua filmografia, é francesa. Sendo assim, pelo menos para mim, mais uma vez, o Brasil não está no Oscar!
Então, vamos às apostas e que acompanhemos a cerimônia do Oscar, torcendo pelos nossos favoritos e nos preparando para as surpresas que, comumente, acontecem na cerimônia.
Mauricio Amorim é Professor de Produção e Direção para TV e Vídeo, Edição, Roteiro, Linguística e Produção Textual da Universidade do Estado da Bahia, Especialista em Linguagens e Mídias Audiovisuais, Cineasta e Colunista do Cabine Cultural.
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